Primórdios dos Almôndegas tinha Pery Souza nos vocais com Kleiton e Kledir
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira22 de Novembro de 2024

Memórias

Primórdios dos Almôndegas tinha Pery Souza nos vocais com Kleiton e Kledir

Músico jaguarense pertenceu a primeira formação do quinteto gaúcho

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Primórdios dos Almôndegas tinha Pery Souza nos vocais com Kleiton e Kledir
Grupo foi fundamental para a consolidação de uma música gaúcha urbana (Foto: Divulgação)

A morte do músico Pery Alberto Alves de Souza, aos 71 anos, na tarde de segunda-feira, em Porto Alegre, trouxe à tona depoimentos e memórias sobre o talento do também compositor e a importância dele na consolidação do grupo Almôndegas, que fez história ao ajudar a formatar um estilo próprio para a música gaúcha urbana. O jaguarense era primo dos músicos pelotenses Vitor, Kleiton e Kledir Ramil, os dois últimos com quem atuou na primeira formação do grupo na década de 1970. 

Pery era primo-irmão de Kleiton e Kledir Ramil, contemporâneos de infância e adolescência. O jaguarense era filho de uma irmã de Dalva Ramil, mãe da dupla. “Musicalmente, Pery sempre foi um expoente, desde criança. E eu nunca escondi de ninguém que a minha melhor formação dos Almôndegas foi a primeira. Porque o grupo teve duas ou três formações até acabar, começou em 1975 e foi até 78”,  conta Kleiton. 

A predileção do músico pelotense pelo grupo inicial tem a ver com a presença de Pery. Além de ser um exímio percussionista, cantava muito bem. “Eu, Kledir e ele éramos responsáveis pela vocalização do grupo, uma das nossas marcas registradas. O Pery era uma peça fundamental dessa parte. Como percussionista ele era quase um Naná Vasconcelos, do Sul do Brasil”, comenta.

No livro Kleiton & Kledir  – A biografia (Editora Bestiário, 2022), o autor Emilio Pacheco lembra de uma passagem turbulenta do quinteto pela Bahia, em 1974, quando o grupo dava os primeiros passos em busca do reconhecimento de um trabalho que começava a se consolidar. “O Pery estava conosco nessa viagem, a gente não tinha nem gravado disco ainda”, relembra Ramil. O primeiro álbum do grupo, intitulado Almôndegas, foi lançado no ano seguinte.

“Antes da gente gravar o primeiro disco nós fazíamos shows aí no Rio Grande do Sul, os projetos culturais que a gente conseguia. Não dava para viver disso, ainda, mas a gente se divertia”, conta Ramil. Um desses projetos foi oferecido pelo produtor baiano Roberto Santana, que estava com Vinícius de Moraes e Toquinho em Porto Alegre e viu o grupo – formado por Pery Souza, Kleiton, Kledir, Gilnei Silveira e Eurico Guimarães de Castro Neves – cantando, em uma festa na casa do, então músico José Fogaça. 

Santana convidou o grupo para ir tocar no Teatro Vila Velha, no Festival de Verão, em Salvador. Era 1974 e os Almôndegas se apresentariam pela primeira vez fora do Estado. A estreia, com teatro quase vazio, foi decepcionante. “Foi pouco divulgado e nós não tínhamos disco, nossa música não tocava em lugar nenhum”, relembra Kleiton. Mas a temporada na Bahia não foi em vão e os gaúchos fizeram outro show e conseguiram conquistar o público. 

Esse festival abriu as portas do Teatro Marília em Belo Horizonte e, logo a seguir, os gaúchos gravaram o disco de estreia em São Paulo. Para Kleiton o Pery é responsável pelo início da carreira dele. “O disco fez muito sucesso e é até hoje cultuado. A gente fica muito feliz de ter desenvolvido um trabalho perene.” 

Presença de palco

Kleiton descreve o primo como uma força da natureza no palco. “Ele era muito forte, tinha uma presença de palco incrível, tinha uma energia muito positiva. Souza gravou os dois primeiros discos do Almôndegas, ambos em 1975. Quando ele quis sair do grupo, os primos lamentaram, mas apoiaram. “Lutamos para que ele não saísse, para mim ele era uma peça importantíssima. Tanto é que o Almôndegas, a partir daí nunca mais teve a mesma performance de vocais. Aí mudou a estética do grupo, era outra banda”, fala. 

Em 1984 lançou o primeiro disco solo, Pery Souza. Professor formado em Composição e Regência pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi autor de canções como Pampa de luz, em parceria com o poeta Luiz de Miranda, que ganhou prêmio de segunda colocada no 3º Musicanto de Santa Rosa (RS), em 1985, Noite de São João e Estrela guria.  O músico estava afastado da vida pública há cerca de dez anos por causa do Alzheimer. 

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