Placa furtada do Clube Comercial foi marco da visita de Costa e Silva
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quinta-Feira21 de Novembro de 2024

Opinião

Ana Cláudia Dias

Ana Cláudia Dias

Coluna Memórias

Placa furtada do Clube Comercial foi marco da visita de Costa e Silva

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Presidente militar trouxe ministros do seu governo para o Rio Grande do Sul (Reprodução Arquivo Nacional)

Essa semana o furto de uma placa comemorativa do Clube Comercial, fato registrado pelo jornalista Heitor Araújo, ao jornal A Hora do Sul, trouxe à tona não só a homenagem da entidade ao ex-presidente militar Costa e Silva, mas também o estado de abandono da entidade, que pertence ao conjunto arquitetônico do Centro Histórico de Pelotas tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O tributo, que deveria estar em uma parede do Clube, marcou a passagem de Artur da Costa e Silva (1899-1969) por Pelotas há 56 anos. 

Na quarta-feira a placa histórica foi recuperada e agora está sob a guarda da Secretaria de Cultura. Mas a relação do gaúcho de Taquari com Pelotas é bem anterior à data de 4 de abril de 1968. Ela tem a ver com a carreira militar que começou em 1918, logo após a sua formação secundária, no Colégio Militar de Porto Alegre, em 1917. 

Em fevereiro de 1946, Costa e Silva, já coronel, foi nomeado comandante do 9º RI, em Pelotas. Cargo que exerceu até dezembro de 1948, quando foi designado chefe do estado-maior da 3ª RM sediada em Porto Alegre. 

Quando voltou a Pelotas, em 1968, era então o presidente eleito indiretamente em 1966, pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido situacionista implementado a partir do golpe Militar de 1964. Seu governo ficou marcado pelo início dos anos de chumbo da ditadura, especialmente pela edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o período mais duro da repressão. 

Hóspedes de cerimônia

A visita de Costa e Silva, junto com a esposa Yolanda Gibson Barbosa, é lembrada pela pelotense Maria Eulalie Assumpção Mello Fernandes. Na época, o presidente e a primeira-dama foram hospedados na casa dos pais da produtora rural, Manoel Julio de Mello e Ináh Assumpcao Mello, na rua 15 de Novembro, 820. 

“Um homem extremamente simpático e muito educado”, relembra. Além de Yolanda, acompanharam Costa e Silva um dos filhos e a nora. 

O ex-presidente dispensou os guardas de segurança e, todas as manhãs, caminhava ao redor da Catedral com o anfitrião. Para recepcioná-lo, na tarde da sua chegada, havia um carrinho com muitas bebidas, como vinhos e whisky, mas diante da cerimônia da ocasião, ninguém se servia. Quem quebrou o embaraço foi o noivo de Maria Eulalie, Sérgio Fernandes, que disse: “Presidente, posso lhe servir? Qual sua preferência?”.

Costa e Silva “alegremente” respondeu: “Vou me sentir muito bem nesta casa, pois não faço nem gosto de cerimônia. “Assim aconteceu durante toda sua estadia”, relembra Maria Eulalie. Quando se despediu falou, o marechal falou: “Se puder voltarei a Pelotas, Cidade do Doce, onde fui docemente recebido!”

Entre os detalhes que Maria Eulalie lembra está uma gafe ocorrida na hora do almoço. “Chegaram  todos os Ministros,a família e faltou um lugar para o Ministro do Planejamento. Costa e Silva bem humorado disse: ‘Ministro, hoje faltou planejamento’.”

Outro detalhe é que Costa e Silva gostava de conversar e falar tanto de momentos oficiais como do quotidiano de sua vida. Apreciava comer muito bem, sendo seu prato predileto o lombinho de porco com rodelas de abacaxi e arroz a piamontese. Este foi o prato do jantar da despedida. A sobremesa: fios de ovos.

Homenagem

Placa furtada foi reencontrada e está com a Secult (Foto: Heitor Araujo)

O militar foi homenageado num grande jantar que lotou os salões do Clube Comercial. Segundo Eulalie, ele ficou encantado com as peças raras do Clube e do estilo de construção. Caminhava impactado pelas galerias, dizendo nunca ter visto no Brasil prédio semelhante àquele. 

Houve ainda uma tarde no Dunas Clube, um chá somente para as mulheres, momento em que dona Yolanda ganhou uma pulseira de ouro da joalheria Levy Frank.

Motivo da visita

O presidente militar esteve no Rio Grande do Sul por seis dias, de 1º a 6 de abril de 1968, juntamente com alguns de seus ministros. Do Palácio Piratini governava o país e na agenda estevam ainda as inaugurações da Ponte Internacional da Concórdia, mais conhecida como Ponte Quaraí – Artigas, sobre o Quaraí, a variante ferroviária de Pedras Altas e a rodovia entre Osório e Torres. 

A descentralização do governo foi também uma demonstração de apoio ao RS, que reivindicava ajuda na sua recuperação econômica. Costa e Silva morreu em 17 de dezembro de 1969, devido às consequências do Acidente Vascular Cerebral que sofreu em 31 de agosto.

Fontes: wikipedia.org; jornal Diário de Notícias de Porto Alegre; Fundação Getúlio Vargas (https://cpdoc.fgv.br/)

Há 50 anos

Theatro Guarany lota com show de samba de Sargentelli

O Theatro Guarany recebeu o show de música e dança de Sargentelli. O empresário, radialista e apresentador de televisão Osvaldo Sargentelli ficou conhecido no país por comandar diferentes casas de samba no Rio de Janeiro, a Sambão, Sucata e Oba-Oba, onde se apresentavam lindas dançarinas negras. Na época elas eram identificadas como “as mulatas do Sargentelli”. 

A temporada pelotense foi um sucesso, com casa lotada em mais de uma apresentação. “Despeço-me de Pelotas, levando a melhor das recordações. O público gaúcho é indiscutivelmente o mais hospitaleiro deste país maravilhoso… a plateia do Rio Grande do Sul é a única que sabe aplaudir afinada. Vocês são sensacionais”, disse à imprensa. 

O carioca trouxe a Pelotas um grupo de 16 mulheres e 15 músicos. A trupe ainda realizou apresentações em Porto Alegre, Santa Maria, Bagé e Cruz Alta.

Fonte: Diário Popular/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense

Há 100 anos

Pelotenses assistem primeiras transmissões radiofônicas

O Clube Comercial foi abrigo para a realização de uma experiência com receptores de rádio telefonia. O evento foi promovido pelo representante da casa Barreto Vianna & Comp, Euclydes Gallo. A numerosa assistência ouviu peças variadas, especialmente radiographadas pela estação da República Argentina Rádio Cultura. Chamaram a atenção os solos de piano, canto e uma orquestra. “Oportunamente diremos com vagar os resultados que foram colhidos com a introdução desses aparelhos na cidade de Pelotas”, finalizou o jornalista convidado para a demonstração. 

“Cada noite ouvireis várias fontes de transmissão, sempre com programas seletos, que farão o vosso lar, um encanto”, prometia o revendedor.  A década de 1920 foi o início da radiofusão no país e a rádio telefonia era um sistema de transmissão de voz que utilizava uma antena e uma caixa transmissora anexadas a um microfone e fones.

Fontes: A Opinião Pública/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense

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