As doenças renais são a epidemia do século 21, afirma o nefrologista do Hospital São Francisco de Paula, Franklin Barcellos. Segundo as estatísticas apresentadas pelo médico, há dez anos as doenças renais eram a 14ª causa de morte no mundo, hoje elas já ocupam a 8ª posição nesse ranking e a estimativa é que em 2040 elas estejam em 5º lugar. Pensando nesse problema, há 19 anos a segunda quinta-feira do mês de março foi denominada como Dia Mundial do Rim e é destinada a entender mais sobre esse órgão tão importante para o funcionamento do organismo.
O tema deste ano pergunta: “Seus rins estão ok? Faça exame de creatinina para saber”. A creatinina é uma substância química produzida pelos músculos e filtrada pelos rins. A sua concentração no sangue é um indicador da função renal. Para medi-la basta um simples exame de sangue que está disponível na rede pública de saúde e pode fazer a diferença no diagnóstico precoce da doença renal crônica. Dr. Rafael de Almeida, nefrologista da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, destaca a importância da campanha também na conscientização dos profissionais para a requisição deste exame.
Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), os rins fazem parte do sistema urinário e são responsáveis por quatro funções do organismo: 1) Eliminação de toxinas do sangue por um sistema de filtração; 2) Regulação da formação do sangue e dos ossos; 3) Regulação da pressão sanguínea; 4) Controle do delicado balanço químico e de líquidos do corpo. Quando esses órgãos não funcionam adequadamente é preciso procurar um nefrologista e pode ser necessário fazer a diálise.
Cenário em Pelotas
Em 2024 na cidade de Pelotas foram realizadas mais de 40 mil sessões de hemodiálise, sendo que a Santa Casa de Misericórdia atende pelo menos outras dez cidades da região.
Um dos pacientes pelotenses é Roger Rodrigues que tem 39 anos, que é eletromecânico e realiza seu tratamento no Hospital São Francisco de Paula. Há mais de 15 anos ele lida com a doença renal, mas há cinco meses foi necessário iniciar com a terapia renal substitutiva. “No início a gente não dá muita bola porque tu não sente nada”, diz. A rotina de exercícios físicos auxilia e muito no tratamento do ciclista que afirma que faz bem para o corpo e melhor ainda para a saúde mental.
O nefrologista Franklin Barcellos destaca que a falta de sintomas é um dos principais agravantes da doença. Em torno de 70% dos pacientes que passaram pelo consultório dele e precisam fazer hemodiálise, não sabiam que tinham qualquer tipo de doença nos rins por não terem nenhum sintoma. Foi o que aconteceu com o chefe de padaria Hendrick Guimarães. Em uma sequência de exames de rotina ele descobriu alterações sérias que o levaram a internação.
Depois de um ano de investigação, foi iniciado o processo de hemodiálise. Desde o princípio a equipe médica conversou sobre o transplante e depois de quatro anos de espera, no dia 5 de novembro de 2021, o transplante aconteceu no Hospital São Francisco de Paula. O doador foi o pai de Hendrick e há um pouco mais de três anos a vida é outra. “Quando a gente vê as possibilidades que existem lá fora e quando a gente começa a realizar sonhos que eram antigos, a gente vê o quanto valeu a pena”.
De acordo com os médicos, o diagnóstico precoce e um estilo de vida saudável são as chaves para evitar o tratamento mais invasivo. Confira as principais dicas de prevenção:
- Mantenha uma rotina de exames
- Evite o consumo de álcool
- Não fume
- Mantenha uma rotina de exercícios
- Se tiver histórico de doença renal na família, redobre a atenção
Saiba mais
A nefrologia é a especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente aquelas relacionadas aos rins. Quando a doença renal já está em um grau avançado, a terapia renal substitutiva, mais conhecida por diálise, é o principal tratamento antes do transplante do órgão. Existem dois métodos: a hemodiálise e a diálise peritoneal.
A hemodiálise é realizada no hospital ou em clínicas especializadas em sessões que acontecem três vezes por semana num período de quatro horas. O paciente que faz hemodiálise tem o sangue filtrado por uma máquina que remove as toxinas e o excesso de líquidos. Já a diálise peritoneal é realizada diariamente em casa pelo próprio paciente ou por cuidadores treinados. Esse método utiliza o peritônio, uma membrana natural do abdômen, para filtrar o sangue. Segundo Rafael, não existe uma melhor opção, a decisão depende de fatores como estilo de vida, estado de saúde e avaliação médica.