Os navios eram um dos principais meios de transporte de passageiros e cargas no início do século 20. Em 1924, os jornais de Pelotas publicavam diariamente anúncios das companhias de Navegação Lloyd Brasileiro e Nacional de Navegação Costeira, ambas fundadas no final do século 19.
Os anúncios, que chegavam à imprensa via telégrafos, atualizavam a rota e a previsão de chegada, por exemplo. De acordo com o pesquisador Guilherme Almeida, os embarques e desembarques ocorriam semanalmente e quinzenalmente.
Criada por imigrantes portugueses em 1891, a Companhia Nacional de Navegação Costeira foi batizada inicialmente por Lage & Irmãos. Com sede no Rio de Janeiro, a Costeira operou entre 1891 e 1965. A empresa ficou conhecida por identificar suas embarcações por Ita, de origem tupi, a exemplo dos paquetes Itaberá e o Itaperuna, que frequentemente eram utilizados pelos gaúchos da Zona Sul.
A Lloyd Brazileiro foi fundada em 1890 como uma empresa privada, a partir de um projeto do barão de Jaceguai, Artur Silveira da Mota, que buscava a criação de uma companhia de navegação de grande porte, constituída por todas as companhias nacionais. A proposta previa a manutenção das linhas existentes e o estabelecimento de duas transoceânicas, e a atuação em guerras, caso fosse necessário. A companhia passou por muitos problemas financeiros, chegou a falir, mas foi recomposta mais de uma vez. Em 1937, o governo de Getúlio Vargas determinou a incorporação do Lloyd à esfera federal. Em 1997 foi definitivamente extinta.
Empresário festejado
O pesquisador Guilherme Pinto de Almeida relata no perfil do projeto Pelotas Memória um episódio que gerou grande movimentação social em Pelotas: a visita do empresário Henrique Lage (1881-1941), em março do ano de 1920. “O magnata do ramo carbonífero e da indústria e transporte navais viera a bordo do mais novo vapor da sua Companhia Nacional de Navegação Costeira, o Itaquatiá (pedra pintada, em tupi), em viagem inaugural ao Sul do Brasil”, relembra Almeida.
Saindo do Rio de Janeiro, o vapor passou pelos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. No Rio Grande do Sul fez a sua primeira parada em Porto Alegre, evento amplamente noticiado e festejado. Segundo o pesquisador, em Pelotas foram criadas comissões e um programa de festejos de gala, para a recepção do empresário. Entre as atividades estavam passeios pelos arrozais, visita à Santa Casa de Misericórdia e às pedreiras do Monte Bonito.
No dia 20 de março, ocorreu o baile de gala no Clube Comercial, animado “pela orquestra local somada à orquestra do Cinema Odeon carioca”, cedida por Lage. As festividades foram encerradas no dia seguinte, com um almoço a bordo do vapor, oferecido a comerciantes e autoridades pelotenses.
Fonte: jornal A Opinião Pública/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense; @pelotasmemoria, com texto de Guilherme Almeida e edição de imagens: Valder Valeirão