Francine Adamoli, 42 anos, confeiteira pelotense e mãe de dois filhos, foi diagnosticada com melanoma nodular avançado, um câncer raro e agressivo que exige tratamento urgente. Para combater essa doença, ela precisa de imunoterapia com o medicamento Keytruda, que não é oferecido pelo SUS e custa R$ 48 mil por dose a cada 21 dias, totalizando mais de R$ 1,5 milhão ao longo de um ano. Para isso, ela pede ajuda financeira à comunidade através de uma vaquinha. Até o momento, a campanha arrecadou 13,58% da meta definida. Para ela, cada contribuição é um passo essencial na luta contra o tempo. Clique aqui para acessar a vaquinha.
Como você descobriu o diagnóstico e quais foram os principais desafios até o momento para dar início ao tratamento?
Descobri por acaso. Estava enfrentando crises de SII (síndrome do intestino irritável) durante o período da enchente. Tive episódios de ansiedade, o que agravou o meu quadro. A SII está ligada ao sistema nervoso. Acabei indo parar no hospital, pois não conseguia me alimentar e me hidratar. Fui medicada para a dor e recomendaram que eu realizasse exames. Procurei uma médica de confiança, que viu um sinal na minha coxa esquerda e achou melhor investigar. Era um sinal da vida toda, que envelhecia comigo. Nunca me preocupei. Passaram-se dois dias, e aconteceu algo que só Deus explica. Minha mãe marcou de encontrar uma amiga em minha loja de doces, e essa amiga levou a filha. Eu não a conhecia, mas conversamos. Comentei da minha SII e toquei no assunto do sinal. Ela o analisou, pois estuda medicina. Me disse que parecia um melanoma e pediu para averiguar. Depois de algumas consultas, fiz a cirurgia. A biópsia mostrou que era um melanoma nodular em estágio avançado.
A partir de então, como você lidou com isso?
Embora, estatisticamente, uma porcentagem de pacientes com melanoma agressivo como o meu não tenham uma sobrevida maior do que cinco anos, existe uma porcentagem que tem. Eu acredito muito na minha cura. Hoje, estou lutando na Justiça pedindo o meu tratamento. A medicação foi negada pelo parecer de um médico neurologista, que alegou que o tratamento é muito caro para o orçamento da União, com baixa perspectiva de sobrevida. Um oncologista jamais negaria o meu tratamento, estamos pedindo a avaliação de um. Enquanto isso, os meses estão passando. Mesmo que eu consiga arrecadar a primeira dose, após 21 dias eu tenho que fazer a segunda, se não coloco meu tratamento em risco. Não estamos brigando nem pelo dinheiro, e sim pela medicação. O Ceron fará a aplicação sem custos. Mas precisamos do remédio. O monitoramento da doença tem um custo alto também, e estou arcando com tudo. Eu luto. Mesmo doente, trabalho. Vendo meus cursos online, faço meus doces. Mas os gastos são maiores sempre.
O que significa para você poder contar com a possibilidade de realizar o tratamento, com a solidariedade da comunidade?
Graças a Deus, muitas pessoas já me ajudaram, tanto com a vaquinha, como comprando meus livros digitais, meus cursos e rifas. Tive muito apoio dos meus alunos, meus amigos e de pessoas que sequer me conhecem. Agora vem o tratamento, que significa para mim a cura, a remissão, tudo o que eu ainda tenho por fazer nesse mundo. Os meus filhos, a minha missão. Essa experiência me impactou em várias camadas. Perdi meu pai há pouco mais de dois anos, de câncer. Foram um ano e três meses de tratamento paliativo em estágio terminal. Eu precisei de muito tempo para entender aquele sofrimento dele, assim como o meu. A minha doença chegou em um momento em que eu estava voltando a ser a Fran de antes, voltando a me alegrar, voltando ao meu ritmo. Quando eu fui surpreendida com o diagnóstico, não teve como não lembrar de tudo o que passamos. Mas, de qualquer forma, virou uma chave. Uma vontade enorme de viver. E mudou muito a forma de perceber a vida, amar e valorizar os pequenos momentos.