Tem início a construção da Ponte dos Dois Arcos
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira4 de Dezembro de 2024

Opinião

Ana Cláudia Dias

Ana Cláudia Dias

Coluna Memórias

Tem início a construção da Ponte dos Dois Arcos

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Há 170 anos

Atualmente pouco conhecida, a Ponte dos Dois Arcos, edificada no antigo Corredor das Tropas, bem próxima à Estrada do Engenho, na localidade chamada Passo dos Negros, é hoje alvo de estudos e dossiês que provam sua importância histórica para o desenvolvimento da riqueza dos charqueadores de Pelotas e a necessidade de sua patrimonialização. E não somente a dela, mas da região em que está inserida. 

Sua construção remete à metade do século 19, quando foi realizada pela mão de obra escravizada, que trabalhava nas várias charqueadas que existiam ao longo do Canal São Gonçalo. “A Comissão encarregada da estrada do Passo dos Negros deu a seguinte palavra: A Câmara encarregou de examinar o lugar mais adequado para a construção de uma ponte pretendida na estrada do Passo dos Negros, vem de solicitar escravos dos senhores charqueadores da margem do São Gonçalo para a obra, a fim de dar conta da estrada e dos trabalhos”, conforme a ata de 14 de janeiro de 1854.  A construção também se tornou o primeiro ponto de pedágio de Pelotas.

Ponte se tornou marco na história do povo negro em Pelotas (Foto Igor Corrêa/Projeto Analangone.Art)

Portas de entrada do negro africano e do afro-brasileiro escravizado, além da matéria prima das charqueadas, o gado, o Passo dos Negros e a Ponte dos Dois Arcos são referências históricas sobre a escravização em Pelotas, que estão sendo aos poucos apagadas. “Estamos em uma luta muito grande para que esse espaço (o Passo dos Negros) seja reconhecido como patrimônio material e imaterial de Pelotas, não só do município, porque ele teve uma importância na rota da escravização no Rio Grande do Sul. Esse território está sendo reduzido e a memória da população negra e indígena está se perdendo por causa da especulação imobiliária”, fala a historiadora Francisca Mesquita Jesus, doutoranda em História pela Universidade Federal de Pelotas e presidente do Conselho de Cultura. 

Deslocamento e venda

Em função da baixa profundidade, o Passo dos Negros serviu como travessia dos rebanhos e dos escravizados, oriundos de embarcações. Localizado ao final do bairro Navegantes se estende até a Estrada do Engenho, entre o Parque Una e Lagos de São Gonçalo. Historicamente o território era mais amplo, começando por onde hoje é a Balsa.

Para além do trabalho do povo negro ou da passagem dele quando ia em direção dos logradouros de comércio de escravizados, a localidade se tornou referência para os descendentes desses homens e mulheres, que ali se estabeleceram. “Tem toda uma etnografia que a gente levantou sobre as pessoas negras que se sentavam, rezavam em cima daquela ponte ou sob aquelas figueiras, tem todo um contexto histórico e de narrativas muito importante, não só para a cidade, mas para a região Sul sobre esse percurso negro que existe dentro da cidade”, fala a museóloga Patrícia Morales, doutoranda em Antropologia pela UFPel.

Para não se repetir

Patrimonializar o Passo dos Negros e a Ponte dos Dois Arcos significa mais do que proteger um pedaço de história contra a especulação imobiliária, argumenta a historiadora.  “Mesmo a memória traumática é importante ser preservada. Tu não podes promover o apagamento da passagem, mesmo que trágica, de um povo dentro desse processo histórico. É relevante que seja lembrado. Como se diz entre os historiadores: é importante que se lembre para que nunca mais se esqueça”, argumenta Francisca.

Trazer à memória pontos de dor levam a mais estudos e pautam discussões que promovam a mudança. “Isso é tão forte e tão importante porque  Pelotas tem a cultura do apagamento eurocêntrico”, diz a historiadora.

Para Patrícia, nos museus de Pelotas, as histórias dos africanos e dos índios ainda estão aquém do que seria necessário para gerar entendimento e pertencimento. “A gente entra nos espaços, ditos de memórias da cidade, e o que se tem neles sobre o povo negro e indígena é muito pouco, por documentos que se tem sobre a escravização é muito vago. Deveria haver mais relatos sobre os africanos e afrodescendentes como pessoas que lutaram pelas suas liberdades e direitos”, avalia a museóloga.

Há 50 anos

Diretor do Foro de Pelotas pede ampliação das instalações

O diretor do Foro da comarca de Pelotas, José Carlos Sanches Guimarães, encaminhou um relatório ao tribunal de justiça do Estado, revelando que os serviços judiciários do município poderiam ir à “falência”, caso não fossem tomadas uma série de medidas, entre elas a ampliação do prédio e a criação de novas varas para dar conta do volume de processos.

O prédio utilizado em 1974, na rua Sete de Setembro esquina com Félix da Cunha, foi inaugurado em  1963. Quando inaugurado contava com quatro juízes: Ernestino Pereira de Lucena, diretor e titular da 1ª vara criminal; Túlio Barbosa Leal, titular da segunda; Romeu Notari e Wilson Alves Chagas, respectivamente das 1ª e 2ª varas cível. Em 1970 foi criada a 3ª vara cível. 

Como solução aos problemas de estrutura, o diretor apontava a ampliação do espaço físico. Outro apontamento era a necessidade da implantação de mais três varas cíveis, duas criminais e outra destinada à direção do Foro, Execuções Criminais e Menores.

Desde 2005, o Foro pelotense funciona na sede da avenida Ferreira Viana, 1.134.

Fonte: Diário Popular/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense

Há 100 anos

Exposição no bazar Bule Monstro chama a atenção

A nova exposição de artigos do bazar Bule Monstro exibidos nas suas vitrines da loja estava chamando a atenção do público, que se acotovelou para ver a novidade. A exposição foi montada pela funcionária Maria Hermínia Velasco. Não só os ítens da recente coleção eram elogiados, mas também a disposição do material.

O bazar, criado em 1882, esteve em atividade até 1968. Localizado no cruzamento entre as ruas Sete de Setembro de Andrade Neves marcou a memória de quem o conheceu. A loja chegou a ter duas sedes no mesmo endereço, uma na frente da outra. O comércio era caracterizado por um bule em grandes proporções, construído de madeira e ferro, na fachada.

Fonte: A Opinião Pública/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense

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