De bicicleta, casal refaz caminho das águas da enchente

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De bicicleta, casal refaz caminho das águas da enchente

Jornalistas têm o objetivo de coletar histórias e registrar vestígios após a cheia da Lagoa dos Patos

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De bicicleta, casal refaz caminho das águas da enchente
Raphaela Donaduce Flores e Eduardo Seidl passaram por Pelotas. (Foto: Jô Folha)

Os jornalistas Raphaela Donaduce Flores e Eduardo Seidl chegaram a Pelotas de bicicleta, depois de pedalar durante toda a semana passada, desde Porto Alegre. A rota faz parte do projeto criado pelos dois, chamado Caminho das Águas, que consiste em refazer o trajeto feito pelas águas durante a enchente até desembocarem no oceano, contornando a parte oeste da Lagoa dos Patos até o Cassino.

A ideia é buscar vestígios, coletar relatos de pessoas afetadas pela cheia e registros por fotos, vídeos e textos, com intenção de preservar as lembranças do RS. Ao final da viagem, serão cerca de 500 quilômetros percorridos de bicicleta.

Até o momento, o casal já passou por municípios como Barra do Ribeiro, Tapes, Arambaré e São Lourenço do Sul. Na passagem por Pelotas, locais como o Laranjal e o Pontal da Barra ajudaram na pesquisa.

Casal já passou por diversos locais do RS. (Foto: Raphaela Donaduce Flores)

No último domingo, partiram em direção ao Cassino. Conforme explicam os viajantes, o intuito do deslocamento é reunir as narrativas da enchente, posteriormente organizar essa documentação em um site, documentando e conservando a memória coletiva do Estado.

“A gente quer ir até a beira da água da lagoa, para procurar vestígios e conversar com as pessoas e ver o que a água deixou, o que aconteceu com essas pessoas depois da enchente”, diz Raphaela.

Memória coletiva

Para a jornalista, a coleta de registros após a crise climática pode ajudar para que haja maior preparação quanto ao enfrentamento de novos eventos e evitar esquecimentos.

“Toda a década tem uma enchente grande. Conversando com as pessoas a gente vê que quase todo ano tem alguma. […] O Rio Grande do Sul é um charco, um lugar que alaga muito historicamente. Só que curiosamente tem muita gente que não sabe ou tenta esquecer. Talvez tenha um trauma coletivo das pessoas não quererem prestar muita atenção nessa situação que é uma realidade no nosso Estado”, considera.

O projeto não se propõe a ser uma cobertura jornalística, conforme explica Seidl, e sim uma documentação simbólica, com histórias envolvendo o fato. “Os veículos de comunicação fazem [a cobertura] com muito mais estrutura e abrangência. Nossa intenção é justamente fazer essa documentação simbólica. Procurar vestígios e coletar histórias particulares”, esclarece o fotojornalista.

O professor de fotografia na PUCRS conta que participou de uma oficina de fotos, na qual notou a função dos registros para a construção de um futuro mais responsável. “Um dos oficineiros fez um resgate de enchente […] e foi procurar na revista O Globo matérias sobre a enchente de 65. Era quase como se a gente estivesse lendo as matérias de hoje. A importância da memória desse acontecimento para futuras enchentes”.

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