Professora do curso de Design de Moda do IFSul, Campus Visconde da Graça (CAVG), Frantieska Schneid é uma das vozes mais atuantes na região quando o assunto é moda como expressão, comportamento e responsabilidade social. Com mestrado e doutorado em Memória Social e Patrimônio Cultural, ela também representa o movimento internacional Fashion Revolution em Pelotas. Defende uma visão da moda que ultrapassa tendências e alcança identidade, sustentabilidade e comunicação. Mãe de duas meninas pequenas, mantém ainda um canal nas redes em que compartilha vivências reais sobre maternidade e o cotidiano entre tecidos, memórias e afeto.
A moda hoje vai muito além da roupa. Como explicar essa evolução?
Muitas vezes a moda é reduzida à roupa, ao vestir do dia a dia. Mas isso é só a pontinha do iceberg. A roupa é o produto final de uma cadeia enorme de conhecimentos, pesquisas e processos. A moda se comunica com praticamente todas as áreas: comunicação, política, sociologia, antropologia, história, geografia, matemática, física e química. Ela atravessa o comportamento humano, acompanha mudanças sociais e traduz, no corpo das pessoas, aquilo que está acontecendo no mundo. Quando falamos em “tendência”, muita gente pensa apenas em cor e modelagem, mas a tendência é comportamento, hábito de consumo, leitura social. E o mais bonito da moda hoje é que ela afirma identidade: a moda diz quem tu és antes mesmo de pronunciar uma palavra.
O que se estuda no curso de Design de Moda e quais os caminhos profissionais na região Sul?
Design é, essencialmente, solução de problemas. No nosso caso, o produto final é a roupa, mas existe um universo enorme até chegar nela. Os alunos estudam história da arte, da indumentária e da moda; sociologia e antropologia; desenho técnico e de moda; processos criativos; pesquisa de tendências; desenvolvimento de coleção; planejamento; modelagem; costura; tecnologia têxtil; gestão; marketing; visual merchandising; fotografia; produção de moda; empreendedorismo e varejo. No final, conseguem criar uma coleção completa, da pesquisa sociocultural à peça costurada e comunicada ao mercado. A região Sul não tem o setor industrial forte da Serra, então o caminho aqui é diferente: varejo, consultoria de imagem, marketing de moda, criação de marcas autorais, empreendedorismo e serviços criativos. Temos muitas marcas pequenas e independentes surgindo, e o curso forma profissionais completos para esse cenário.
Como funcionam as tendências hoje? De onde vêm as inspirações?
A criação nunca nasce do nada. Ela nasce do estudo de tendências, que são leituras profundas do comportamento global. Grandes bureaus internacionais analisam política, economia, tecnologia, clima, cultura e comportamento para construir essas tendências. A pandemia é um exemplo claro: primeiro veio a busca por conforto, tecidos suaves e cores neutras; depois, a explosão da “moda dopamina”, com cores fortes que representavam o desejo coletivo de alegria. Hoje, o clima é um dos principais vetores: tecidos leves, naturais, respiráveis e tecnológicos crescem muito. Há um diálogo constante entre inovação e natureza. O designer precisa interpretar o mundo e transformar tudo isso em peças que façam sentido na vida real das pessoas.
A moda também envolve responsabilidade social. Como o Fashion Revolution atua em Pelotas?
O Fashion Revolution nasceu depois do desabamento do Rana Plaza, em 2013, quando mais de mil trabalhadores morreram em Bangladesh. Essa tragédia escancarou a precarização e a invisibilidade de quem faz nossas roupas. O movimento provoca uma pergunta poderosa: quem fez as minhas roupas? Quando uma blusa custa R$ 9,90, alguém está pagando esse preço, e não é o consumidor. O Fashion Revolution defende transparência, consumo consciente, respeito ao trabalho humano e ao planeta. Tenho muito orgulho de representar o movimento em Pelotas e promover ações de conscientização.
