A jovem de 17 anos Paula Teixeira aguarda uma cirurgia de traumatologia há três meses. Com a perna fraturada em dois lugares, a estudante teme espera ainda maior e as consequências para a sua saúde e qualidade de vida. O procedimento dela é uma das 2.617 solicitações de cirurgias. A fila da saúde em Pelotas acumula também 53.906 pedidos de consultas em especialidades em geral e 7.204 de exames.
Entre as especialidades que lideram as solicitações de consultas, estão a urologia (quatro mil) e a cardiologia (3.186). Em seguida, há as consultas para cirurgia geral adulto (2.159) e a cirurgia geral pediátrica (1.110). De acordo com a defensora pública Eleonora Caldeira, responsável pelo ajuizamento de ações de saúde em Pelotas, praticamente todos os dias a Defensoria ingressa com uma ação. Cerca de 40% desses casos são pedidos de medicamentos, 30% de cirurgias e 17% de consultas.
Os dados expostos por Eleonora são somente sobre ações de pessoas adultas, pois o ajuizamento de casos da infância e juventude ficam a cargo de outra defensora. “Muitas pessoas chegam aqui e estão na fila de espera por cirurgia há mais de dois anos. Isso é muito comum”, relata a defensora. Diante dos dados alarmantes, a adolescente Paula Teixeira pode ter que aguardar mais alguns meses ou até um ano para realizar o procedimento na perna.
A jovem fraturou a tíbia em um acidente de moto com a mãe em janeiro e, desde então, está com uma tala provisória. Enquanto a cirurgia não é realizada, ela só consegue se locomover com muletas. “Eles falaram para a gente aguardar porque o máximo de espera seria de duas semanas para fazer a cirurgia. Já fomos a vários retornos, mas até agora nada”, diz.
Paula se preocupa com a possibilidade de ter alguma sequela diante da demora, pois o osso está sendo calcificado fora do lugar. “Estou com medo de ficar com alguma coisa, alguma sequela, ficar manca, não sei”. A mãe de Paula, Daiane Scheunemann, já foi à secretária de saúde e à ouvidoria da prefeitura em busca de alguma previsão de quando a cirurgia será realizada.
A única resposta que obteve é que a paciente está em quarto lugar na fila para cirurgia na Santa Casa de Misericórdia. “O osso está se regenerando todo torto, ela precisa colocar uma placa na perna”, comenta.
Agravamento de casos
Além dos possíveis danos à saúde mental e a perda de qualidade de vida, o longo tempo de espera para a realização de um procedimento ou atendimento de saúde tem como uma das piores consequências o agravamento do quadro de saúde. Com isso, das solicitações de consultas, o paciente passa para a fila de cirurgias, ou ainda para a espera por um leito no Pronto Socorro.
Presidente da Comissão de Saúde, o vereador Rafael Amaral (PP) realizou a audiência pública em que os dados da espera para atendimento foram expostos pela secretária de saúde, Ângela Vitória. Para o parlamentar, a diminuição das filas só será possível com o investimento na prevenção e com mutirões para as especialidades mais demandadas.
“São mais de quatro mil pessoas esperando consulta para urologia e se essa pessoa não consegue daqui a pouco ela chega no PS com um câncer já avançado”. De acordo com Amaral, a espera para iniciar o tratamento com quimioterapia no combate ao câncer é de cinco meses em Pelotas. A Lei do SUS determina que o período seja de no máximo 60 dias.
Medidas para saúde
Os números da saúde foram compilados pela secretária ao assumir a pasta junto com o governo Marroni (PT). De acordo com Ângela Vitória, a partir do diagnóstico a prefeitura trabalhará com ações de curto, médio e longo prazo para mitigar a fila do SUS.
“A situação é realmente muito complicada e não é fácil de lidar com isso porque temos uma população que 90% é dependente do SUS”, diz. Segundo a secretária, a primeira medida está sendo a renovação do contrato de prestação de serviços com os hospitais com a possibilidade de aumento do número de consultas, principalmente nas especialidades mais procuradas.
Aumento de consultas
Ela exemplifica que no contrato com a Beneficência Portuguesa estão previstos 120 cateterismos, mas somente 70 consultas de cardiologia. “Às vezes poderia ser muitas vezes mais o número de consultas do que o de procedimentos”. Para o médio prazo, Ângela Vitória considera a possibilidade da realização de mutirões de atendimentos.
Policlínica e saúde da família
Já para modificar quadro da saúde a longo prazo, a secretária aposta na construção de uma policlínica para ampliar o acolhimento dos pacientes em diversas especialidades. O projeto da unidade estaria sendo inscrito no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além disso, a titular diz que a meta é ampliar a cobertura de saúde da família de 78% para 100%. “Vai diminuir cerca de 20% da fila da UBS, isso significa que os profissionais vão conseguir atender mais a prevenção”.
Segundo Ângela Vitória, ainda é difícil estimar em quanto tempo as ações devem ter resultados significativos na mitigação das filas de espera, principalmente porque os novos contratos com os hospitais ainda não estão fechados.