Região sul pode ser reflorestada a partir do deslocamento da Mata Atlântica

Preservação

Região sul pode ser reflorestada a partir do deslocamento da Mata Atlântica

Pesquisa observa a migração de fauna e flora provocada pelo aquecimento global em direção a áreas mais frias

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Região sul pode ser reflorestada a partir do deslocamento da Mata Atlântica
Aves como o tucano-de-bico-verde atuam na dispersão de sementes e frutos. (Foto: Jeferson Vizentin-Bugoni)

A região Sul do Estado pode se tornar um território fundamental para a preservação de espécies da fauna e flora da Mata Atlântica, refugiadas de zonas mais quentes em que o bioma está localizado. A constatação é feita pelo Instituto de Biologia da UFPel, que trabalha para identificar os animais dispersores e plantas em migração. Com esse processo, a Zona Sul pode passar por uma expansão de áreas florestais.

O deslocamento é provocado pelas mudanças climáticas, que forçam os animais a buscarem regiões com temperaturas mais amenas e compatíveis com o seu habitat original. Com a migração de aves, como o sabiá, e mamíferos como o mão pelada e o ouriço, dispersores de sementes e frutos, a vegetação também chega nos novos ambientes.

Para analisar quais espécies já chegaram ao Sul, o processo de colonização e quais animais são fundamentais para esse processo, a pesquisa liderada pelo biólogo e professor, Jeferson Vizentin-Bugoni, realiza monitoramentos em diversos municípios da região e do Norte do Estado.

Com quatro biólogas e dois mestrandos, já foi possível catalogar 200 espécies de plantas, 130 de animais e nove mil interações – entre dispersores e a flora. “Eu fiz um trabalho parecido com esse por dois anos e mal passamos de mil interações. Então é algo inédito”, diz sobre o levantamento iniciado no ano passado.

Região ideal

Conforme o biólogo, a região Sul tem características fundamentais para a recepção das espécies de refugiados climáticos e, por isso, a tendência é de transformação de áreas campestres, no entorno de Pelotas, por exemplo, em zonas florestais. Pois com o aumento da passagem de animais, também cresce a dispersão de sementes de plantas do bioma Mata Atlântica.

Porém, para isso acontecer é preciso orientar a ação humana. Assim, o propósito da pesquisa é mapear as regiões com maior índice de migração em busca pela preservação dos locais. “Porque apesar da dispersão correta, não serve de nada uma semente cair em uma lavoura, então temos que considerar como este solo está sendo utilizado”, explica.

Daqui a cerca de um ano, os pesquisadores esperam ter definido as áreas de interesse para as espécies colonizadoras e o levantamento sobre quais plantas não têm dispersores e que consequentemente necessitariam de manejo para migração. “Vamos saber onde medidas de proteção ou políticas públicas precisam ser direcionadas se a gente não quer que espécies da floresta atlântica sejam extintas”.

Décadas de deslocamento

Apesar dos primeiros dados após a finalização do trabalho de campo serem analisados em breve, a pesquisa sobre o deslocamento da Mata Atlântica é um trabalho que pode ser realizado por mais de uma década. “À medida que o planeta vai aquecendo e ficando quente demais ao norte, a tendência é que as áreas adequadas para que essas plantas se estabeleçam e os animais são áreas mais frias. Ou em direção ao sul, ou em áreas com maior altitude”, diz o professor.

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