Com emoção e muito entusiasmo sócios e simpatizantes dos clubes sociais negros de Pelotas, Fica Ahí Pra Ir Dizendo e Chove Não Molha, uniram-se para fazer uma volta às raízes das duas entidades: o Carnaval. Nascidas como cordões carnavalescos, há décadas as entidades não honravam essa tradição, o que aconteceu no início da noite deste sábado (22), com um desfile que durou cerca de quatro horas no entorno da praça Coronel Pedro Osório.
Mais de 200 pessoas participaram da folia, que começou pouco depois das 18h, com concentração pela rua 15 ao lado do Mercado Central. Ao som de marchinhas e antigos sambas-enredos das escolas de Pelotas, cantadas com força pelo público, os foliões fizeram a volta na praça, finalizando o percurso de ponto de saída.
Não faltaram foliões de diferentes idades e gerações, de famílias inteiras, com os abadás dos dois clubes, porta-estandartes, tituladas fantasiadas puxando o cordão e atrás do carro de som que amplificou o entusiasmo da bateria, vinha outro grupo bem animado. Pelas calçadas o público também acompanhou até o último acorde.
De uma geração para a outra
A psicóloga Luana Gomes Costa, 42, secretária do Fica Ahi, nunca tinha presenciado um carnaval com o clube do coração, porque os desfiles foram descontinuados há mais de 70 anos. Porém as histórias que envolvem essa base da entidade com 104 anos chegaram até ela, de uma geração para outra. “É uma coisa que sempre foi falada dentro do Clube, por ser a sua origem”, comenta.

O estandarte do Fica Ahi estava lá
Motivada, Luana foi uma das incentivadoras do evento deste sábado, uma proposta da Liga dos Blocos de Rua e Cordões Carnavalescos de Pelotas. “São gerações que não têm essa cultura e a gente quer passar para os nossos filhos, que foi da onde a gente conseguiu expressar a nossa cultura e a potencia do povo negro da cidade de Pelotas”, comenta.

O escudo choviano também foi representado
Presidente do Chove não Molha, Maria Cristina de Moura Goulart, assumiu o clube em 15 de junho do ano passado e desde então a diretoria tenta manter a entidade ativa. O Chove vai fazer 106 anos na quarta-feira. “É uma satisfação muito grande estar aqui e ver o nosso Cube retornar ao cordão choviano, que é o início de tudo”, comenta.
Segundo a presidente da entidade, promover o desfile do cordão, após quase uma década, é uma meta permanente, a partir de agora. Esse ano foram confeccionados 100 abadás para foliões e 50 para a bateria, para o próximo ano, a diretoria quer aumentar esse número.
Sem rivalidades
Para Maria Tereza Barbosa, 73, se um dia existiu rivalidade entre os clubes, hoje não existe mais e ela prova isso. A dona de casa é presidenta do Conselho do Chove e secretária da diretoria do Fica Ahí. Feliz em ver a retomada dos cordões, ela conta que quando entrou para o grupo diretivo das entidades tinha essa meta. “E esse ano consegui colocar os dois juntos. Se Deus quiser, daqui para frente vamos estar sempre unidos”, fala.
Com os avós, pais, tios e primos chovianos, o amor por este Clube foi uma herança de família, conta a dona de casa Ângela Mar Fonseca, 72 anos, secretária executiva da entidade. Feliz por ver a tradição revigorada, a dona de casa também concorda que hoje não tem mais espaço para rivalidades, para ela a parceria entre as entidades é o caminho para driblar as dificuldades. “Aqui nós fazemos tudo por amor”, diz.