As notícias são boas para os pescadores. Em Pelotas, o nível das águas da lagoa baixou, permitindo a entrada da água salgada, o que é um fator positivo para a safra do camarão, aponta o Informativo Conjuntural da Emater. No entanto, a safra da corvina está acontecendo com pouca captura, o linguado diminuiu bastante e a tainha ainda não foi capturada.
A safra do camarão começa em 1º de fevereiro. O receio dos pescadores acontece devido ao acúmulo de chuvas nos últimos meses, o que pode prejudicar o ciclo de desenvolvimento das espécies capturadas. Na Lagoa Mirim, os trabalhadores entraram em período de defeso no dia 1º de novembro, momento em que a pesca é proibida para assegurar a reprodução das espécies. Eles também aguardam a liberação da primeira parcela do Seguro Defeso.
Ciclo do camarão
O ciclo de vida do camarão-rosa, pescado na região, tem algumas etapas. O período de crescimento das larvas do crustáceo, que vem da costa de Santa Catarina, acontece dentro do estuário, a Lagoa dos Patos, e isso depende da entrada da água do oceano, através da barra de Rio Grande. Dentro do estuário, então, as larvas se tornam juvenis e são exploradas pela pesca. Camarões que sobrevivem retornam à região marinha.
A quantidade de chuvas influencia na entrada de larvas na lagoa, uma vez que o nível de água doce no estuário tem a capacidade de atrapalhar ou auxiliar a transposição dos animais da água salgada. Em anos de seca, por exemplo, a produção de camarão ganha fôlego, já que o nível mais baixo da lagoa é um facilitador do processo de ingresso dos crustáceos.
Processo precisa continuar
O professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), Luiz Felipe Dumont, confirma a queda no nível da água doce da Lagoa dos Patos, principalmente no dia de ontem. Porém, para uma boa safra é preciso que o processo continue.
“De fato é positivo, mas precisa se manter por um período mais longo para ter produção na safra”, diz o especialista. Além disso, Dumont afirma que a entrada da água está ocorrendo de forma mais tardia do que o normal, o que deve resultar em camarões pequenos no mês de fevereiro.
Visão de quem pesca
O pescador e morador do Pontal da Barra, José Roberto Pereira, 55 anos, conta que a comunidade sempre aguarda com ansiedade o momento em que a água da lagoa recua para dar início ao processo de salinização. “Acho que agora vai dar uma melhorada. Depois de três enchentes que enfrentamos, espero que dê um camarãozinho”, relata. “Por enquanto os outros tipos de pescaria estão fracos. Mas esperamos que melhore agora”.
Trabalhando com a pesca artesanal há três anos, Cléber Stein, 23, relata surpresa pela entrada da água salgada em um momento em que os pescadores já haviam perdido as esperanças. “Nós achávamos que não ia ter mais nada, tinha muita água. Três cheias em menos de um ano”, justifica o pescador. “Se continuar sem chover assim, pode dar um camarão, tainha, corvina. Nossa safra depende da água salgada”, conclui.
Previsão do tempo
De acordo com o professor da faculdade de meteorologia da UFPel, Julio Marques, tudo aponta para uma redução dos volumes de chuva, principalmente para novembro, dezembro e janeiro, mas sem estiagem. “O começo do verão possivelmente seja de volumes de chuva não tão grandes quanto no ano passado. Há possibilidade de ter chuva, é evidente, não é uma estiagem forte, mas existe a tendência de ter redução nos volumes de chuva. E isso deve ser bem favorável para ajudar na salinidade da lagoa”, afirma.
Segundo o especialista, a salinidade não deve ser tão forte como em anos anteriores, mas é uma boa perspectiva para a safra de camarão. O que ajudou foram os ventos sul das últimas duas semanas, um componente que ajuda a escoar a água da região e aumenta a corrente oceânica. “O mar sobe um pouco mais com vento sul e sudeste e isso faz com que a água comece a entrar”, explica Marques.