Os eventos climáticos extremos seguem provocando diferentes impactos no Estado. Enquanto a Região Sul enfrenta chuvas intensas e recorrentes, com prejuízos principalmente nas áreas rurais, a Região da Campanha lida com os efeitos da estiagem. Pelotas decretou situação de emergência e avalia a ampliação do decreto após as chuvas do Natal, que também causaram danos em Canguçu. Já Hulha Negra decretou emergência em razão da seca.
Na quinta-feira (25), as chuvas voltaram a causar estragos na zona rural de Pelotas e Canguçu. Segundo a Secretaria de Proteção e Defesa Civil de Pelotas, choveu cerca de 100 milímetros em 24 horas no município. Em Canguçu, o volume chegou a 89,2 milímetros no mesmo período.
Pelotas pode ampliar decreto
Em Pelotas, o decreto de emergência foi assinado após o ciclone registrado no dia 10, que causou danos a estradas, pontes, produções rurais, Unidades Básicas de Saúde e escolas, com prejuízo estimado em R$ 7,4 milhões. As chuvas do dia 25 agravaram o cenário, com transbordamento de arroios, estradas submersas e invasão de água em residências. Apesar disso, não houve registro de resgates. A prefeitura realiza novo levantamento para avaliar a ampliação do decreto.
Entre as áreas atingidas está o 7º Distrito, onde a Casa Gruppelli voltou a ser alagada. O episódio remete à maior enchente já registrada no local, ocorrida neste mês. A família voltou a solicitar ações preventivas, como o desassoreamento do arroio e obras estruturais.
Chuvas danificam zona rural de Canguçu
Em Canguçu, a Defesa Civil informou que as chuvas causaram principalmente danos à infraestrutura rural, com pontes submersas e ao menos uma levada pela força da água. Trechos de estradas recentemente recuperados voltaram a ser danificados. Não houve vítimas nem danos graves a moradias.
Campanha enfrenta estiagem
Há cerca de 160 quilômetros de Pelotas, Hulha Negra decretou situação de emergência no dia 15 devido à estiagem que já dura mais de 60 dias. O prefeito Fernando Campani explica que a região é oficialmente reconhecida pelo Plano Nacional de Segurança Hídrica, aprovado em 2019 pela Agência Nacional de Águas (ANA), como território de insegurança hídrica. “Para nós, já não é mais um evento extraordinário. A seca se consolidou como uma condição natural da região”, afirma.
Hulha Negra, Aceguá, Candiota, Pinheiro Machado e outros municípios da Campanha enfrentam períodos recorrentes de escassez. O abastecimento depende de poços artesianos, que apresentam baixa vazão e limitações na qualidade da água, além de dependerem de energia elétrica instável. Atualmente, cerca de 400 famílias – aproximadamente 20% da população – são atendidas mensalmente por caminhões-pipa em um território de quase 900 km², com predominância de estradas de chão. “Ainda temos famílias que consomem água de poços e açudes usados para o gado”, relata o prefeito.
No meio rural, a estiagem afeta a agricultura familiar, a produção de grãos, hortaliças e, principalmente, a cadeia do leite, que envolve cerca de 500 famílias e já registra redução de 35% na produção diária. Campani ressalta que, embora o volume anual de chuvas seja elevado, há grande diferença entre inverno e verão. “Aqui chove mais de 1,6 mil milímetros por ano. O problema é a falta de capacidade de armazenar essa água”, destaca.
Como resposta, os prefeitos da região se uniram para elaborar uma proposta de projeto de lei que reconheça oficialmente a Campanha como território de insegurança hídrica. O texto foi construído em audiência pública com mais de 400 participantes, em novembro, e encaminhado ao Senado Federal por meio do senador Paulo Paim. “Não temos que ter vergonha de dizer que precisamos de investimento do Estado e da União”, conclui Campani.
