Criada em meio à pandemia da Covid-19, a ONG Amigos do Coração nasceu da mobilização de voluntários que decidiram agir diante do aumento da fome e da vulnerabilidade social em Pelotas. Hoje, a entidade mantém diferentes frentes de atendimento, como a distribuição de refeições, apoio a famílias cadastradas e projetos na área da saúde e do acolhimento social.
Como foi esse início e qual é o principal trabalho da entidade hoje?
Alexandre Quevedo: A ONG iniciou em 2020, bem no meio da pandemia, quando vimos que não dava para ficar de braços cruzados. Muitas pessoas já viviam em situação difícil e, naquele momento, a incerteza era ainda maior. Um grupo de voluntários se reuniu com o objetivo de oferecer apoio imediato, principalmente alimentação, e esse trabalho foi crescendo conforme a necessidade da comunidade.
Flávia Santos: No começo, a gente se reunia na garagem de uma voluntária e servia cerca de 70 refeições. Em poucos meses, esse número saltou para 300 refeições, o que foi assustador, mas também mostrou o quanto a demanda era grande. Hoje temos uma sede na Rua Bento Martins, atendemos famílias cadastradas e mantemos um trabalho contínuo de apoio social.
Atualmente, qual é o alcance da ONG e quantas pessoas são atendidas semanalmente?
Flávia Santos: Hoje nós temos 41 famílias cadastradas e servimos, em média, 250 refeições por semana, o que alcança cerca de 200 pessoas. Nenhuma semana a ONG para. Atendemos comunidades como a região do Pântano, Balsa Mauá, Ceval e até famílias que vêm de locais distantes, como o Passo do Salso. Quando alguém atravessa a cidade para buscar uma refeição, é porque realmente precisa.
Como funciona o atendimento e quais são as principais frentes de trabalho da ONG?
Flávia Santos: Nós temos três frentes principais. A primeira é o jantar servido na sede, todas as quintas-feiras, às 18h, com cerca de 100 refeições. A segunda é a ronda noturna, quando voluntários levam comida às pessoas em situação de rua. E a terceira é a distribuição de refeições para as famílias cadastradas, que levam a comida para casa. Para reduzir o impacto ambiental, adotamos potes reutilizáveis, como potes de sorvete. As famílias levam a refeição e se comprometem a devolver o recipiente limpo na semana seguinte. É um sistema simples, mas que funciona bem e cria também um senso de responsabilidade compartilhada.
Qual é o perfil das pessoas atendidas pela ONG e quais realidades vocês encontram no dia a dia?
Flávia Santos: São famílias em extrema vulnerabilidade social. Muitas vivem em condições que chocam quem não conhece essa realidade de perto. Em alguns casos, benefícios sociais são suspensos e a ONG acaba sendo a única alternativa para garantir a alimentação.
Alexandre Quevedo: A gente trabalha sem julgamento. Costumo dizer que nosso trabalho é como um guarda-chuva: ele não acaba com a chuva, mas protege quem está embaixo. Não cabe a nós questionar a história de cada um, e sim oferecer apoio enquanto essa pessoa precisa. O voluntariado transforma quem recebe, mas transforma muito quem ajuda também. Por isso, convidamos a comunidade a conhecer o trabalho de perto. Estar presente muda a forma como se enxerga essa realidade. Alexandre Quevedo: Mesmo durante as festas, quando muitos serviços fecham, a ONG segue com o atendimento, acolhendo.
Como a Amigos do Coração se sustenta financeiramente e quais são os principais desafios, especialmente neste período de fim de ano?
Flávia Santos: Ao longo do ano, a ONG enfrenta uma corrida constante para dar conta das despesas fixas, como aluguel da sede, água, luz, IPTU e gás. Para isso, contamos com doações financeiras, inclusive de pessoas que contribuem mensalmente, mas entendemos que não podemos depender apenas da comunidade. Realizamos dois grandes brechós por ano, além de rifas no aniversário do projeto e no Natal, e a participação em feiras. Todo esse trabalho é feito de forma voluntária. Embora a ONG tenha CNPJ e esteja regularizada, não recebe recursos de órgãos públicos nem possui vínculo com entidades políticas ou religiosas.