Quase dois meses após as inscrições para o Auxílio Reconstrução do governo federal, várias famílias da Colônia Z-3, localidade que foi uma das mais atingidas pelas enchentes em Pelotas, ainda não sabem quando ou se receberão o benefício de R$ 5,1 mil.
Destinado aos afetados pelas cheias de maio, o recurso é essencial para esses moradores, que em sua maioria são pescadores de baixa renda, que perderam quase todos os bens de dentro de casa e têm apenas no seguro defeso sua fonte de renda. Além disso, muitos não têm acesso frequente à internet e não conseguem acompanhar o andamento do processo de aprovação do auxílio.
De acordo com o presidente da Associação dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição, são inúmeras as reclamações sobre a demora para o recebimento do auxílio, questão que será pauta na próxima reunião do Fórum da Lagoa dos Patos.
“O Cras [Centro de Referência de Assistência Social] que trata do cadastro desse benefício está sempre cheio de gente procurando explicação”. Na Z-3, somente de pescadores são cerca de mil pessoas. “Fizemos todo o processo certinho, mas não estamos recebendo e não temos explicação nenhuma, a gente só sabe que está em análise. Mas cadê a explicação para nós do porquê que está demorando?”, questiona o pescador Nilson Sabino.
Na casa dele, não restou nenhum móvel e a ansiedade pela recuperação das condições básicas do lar aumenta a cada dia em que ele espera pelo auxílio. “Ninguém sabe, está todo mundo esperando, queremos reconstruir as casas, mas de que jeito? Sem esse recurso chegar não dá.”
Benefício negado
Vizinho dos pescadores, na rua que fica há poucos metros da margem da Lagoa dos Patos, Fábio da Luz, após quase dois meses de espera teve o auxílio da família recusado. “Tem pai, mãe e filho na mesma casa que receberam. E o da minha mulher foi reprovado, eu fiquei mais de 30 dias com água no peito dentro de casa sozinho e até hoje não ganhei um balcão”, reclama, ao se sentir injustiçado.
Mãe de dois filhos pequenos, Rosana Alves passou pelo mesmo problema e ao procurar ajuda na prefeitura soube que o benefício havia sido negado, pois no cadastro não informaram que ela mora no mesmo pátio que a mãe. “Refiz o meu cadastro na prefeitura, só que disseram que houve muita fraude, não é certo que eu vou receber. Então eu precisando, com dois filhos, posso não conseguir receber. Esse dinheiro seria essencial para a reconstrução da minha casa.”
Atualização
De acordo com a coordenadora de Transparência e Controle Interno da Prefeitura de Pelotas, Tavane Krause, na última sexta-feira (19) houve uma atualização significativa dos resultados dos cadastros. Com isso, houve a elevação do quantitativo de cadastros reprovados.
Ela ressalta que os municípios não têm gerência sobre a análise e respectivos resultados. Os critérios e processamento são realizados exclusivamente pelo governo federal. A responsabilidade dos dados prestados em cada cadastro é do responsável familiar. A prefeitura apenas coleta os dados, verifica se está dentro do perímetro atingido diretamente pelas águas e então insere o cadastro, viabilizando um processo ágil e dada a urgência da demanda.
A Ouvidoria da Prefeitura, reforça, está em pleno atendimento de pessoas em busca de informações. “Também já fizemos contato com a ouvidoria do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) para buscar orientações sobre como proceder diante de cada motivo registrado nas reprovações”, afirma Tavane. Segundo ela, a maior parte dos casos de motivos apontados para reprovação é de membro familiar figurando em mais de um cadastro, bem como cadastros no mesmo endereço.