A Havaianas entrou no centro de uma polêmica nacional após o lançamento de um comercial recente. O episódio rapidamente extrapolou o campo da comunicação e passou a ocupar redes sociais, grupos de WhatsApp e debates sobre posicionamento da marca.
A campanha utilizava uma brincadeira de linguagem com “pé direito” e “dois pé”. Criativamente, era simples, simbólica e alinhada ao histórico leve da marca. Ainda assim, parte do público interpretou a mensagem como um sinal político. A reação foi imediata: críticas, pedidos de boicote e um volume de engajamento negativo que levou a empresa a retirar o post do feed principal nas redes sociais e limitar os comentários.
O ruído não surgiu da peça, mas sim do ambiente em que ela foi lançada. Nenhuma decisão acontece fora de contexto. Toda comunicação entra em um cenário já carregado de sensibilidades, disputas simbólicas e leituras possíveis. Ignorar esse pano de fundo costuma gerar consequências, especialmente para marcas que falam com milhões de pessoas ao mesmo tempo.
Ferramentas de análise externa existem justamente para isso. A matriz PEST, por exemplo, ajuda a observar fatores políticos, econômicos, sociais e tecnológicos antes de uma decisão estratégica. No caso em questão, dois elementos merecem atenção.
No campo social, o Brasil vive um momento de alta mobilização emocional. As pessoas estão mais reativas e menos dispostas a separar símbolos de disputas maiores. No campo político, a proximidade de 2026 intensifica esse cenário. Anos eleitorais reduzem tolerâncias e ampliam interpretações.
Há ainda o posicionamento da marca. Havaianas é popular, transversal, presente em diferentes classes, regiões e perfis. Marcas assim dependem menos de impacto pontual e mais de estabilidade. Jogam um jogo de escala, não de ruptura.
Um detalhe ajuda a entender o episódio. Anos atrás, a mesma brincadeira de linguagem foi usada em uma campanha com Romário e não gerou qualquer comoção. Ou seja…. a ideia não era nova, mas o contexto, sim.
Isso reforça um aprendizado para nós, muitas vezes ignorado na pressa das decisões: ideias dependem do momento em que são lançadas e da capacidade de quem as recebe de enxergar o contexto completo.
O recuo posterior indica que o risco foi percebido. A dúvida que fica é recorrente em muitas empresas. A análise não aconteceu antes ou aconteceu e foi superada por outras pressões internas?
Nada disso vai quebrar a Havaianas. A marca detém cerca de 90% do seu mercado no Brasil. Tem fôlego, história e margem para atravessar ruídos como esse.
A pergunta mais relevante é outra. Você tem essa mesma margem de erro? Quantas vezes toma decisões sem analisar o cenário completo? Quantas vezes confia apenas na intenção da ideia e ignora o ambiente em que ela vai cair?
Empresas grandes sobrevivem a escolhas mal calibradas. Negócios menores e carreiras individuais, nem sempre. Para quem não domina o mercado, cada decisão pesa mais.
Em tempos que exigem, decidir sem ler o contexto é liderar no freestyle, e o mundo é das lideranças preparadas.