O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, fez um balanço dos resultados obtidos pelo setor industrial em 2025, assim como as previsões para 2026, em reunião com representantes da imprensa. Entre os destaques alcançados pela entidade em 2025 estão a realização da Rota Fiergs, projeto de interiorização que visitou dez regiões do Estado, e o investimento de R$ 419 milhões até 2027 em unidades do Sesi e do Senai. Na avaliação de Bier, 2025 foi um ano de consolidação do projeto Fiergs do Futuro, que guiou ações com foco em gestão integrada, resultados e valorização do interior gaúcho. Pelotas foi um dos municípios a receber a Rota Fiergs. Na oportunidade, foram eleitos cinco projetos com foco em logística e qualificação de mão de obra local.
Também foi destacado pelo presidente o aumento de 30% no atendimento destinado às indústrias, com foco especial nos pequenos e médios negócios. Bier reforçou que os resultados foram alcançados com a mesma receita e uma significativa redução de despesas. Ao todo, quase 11 mil empresas foram atendidas no período.
Como resultado do novo modelo de gestão adotado pelo Sistema Fiergs, houve aumento das contratações de fornecedores localizados no Estado. “Essas entregas são fruto de um modelo pioneiro de gestão que implantamos em 2025. Um modelo integrado, ágil e focado em resultados, organizado em 10 regiões geográficas. O ano de 2025 foi de escuta e iniciativas importantes; vimos que a força da indústria gaúcha está na sua diversidade e capilaridade”, avaliou.
Investimentos na Zona Sul
Durante a coletiva, o presidente falou sobre o olhar especial que o Sistema Fiergs terá para a região Sul, com foco em contribuir para a retomada da atividade naval em Rio Grande. Conforme Bier, estão em tratativas a cessão de um terreno pela prefeitura de Rio Grande para a construção de uma nova escola, destinada à formação de mão de obra para as indústrias do Polo Naval.
A diretora-geral do Sesi-RS, Senai-RS e IEL-RS, Susana Kakuta, complementou que reuniões com empresas que têm investimentos na região Sul já estão ocorrendo. “Temos um plano de ação para a formação de mão de obra. Já temos, em Rio Grande, uma escola pequena de formação, mas desta vez estamos atuando de forma diferente: não apenas na capacitação, mas também participando do processo seletivo”, explicou.
Em setembro, durante a realização do evento Rota Fiergs em Pelotas, foram anunciados R$ 6,7 milhões em recursos a serem aplicados em atualização tecnológica nas unidades do Senai de diversos municípios. Para Rio Grande, o orçamento prevê investimento de R$ 3,4 milhões. Também serão contemplados os municípios de Bagé, com R$ 950 mil, e Pelotas, com cerca de R$ 800 mil.
Projeções econômicas para 2025
O economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, avaliou que, mesmo com o cenário de crise vivenciado no mundo em 2025, a economia internacional apresentou certa estabilidade, com previsão de crescimento de 3,2% em 2025, seguida por projeção de 3,1% para 2026. “O cenário internacional ganhou enorme importância nas análises de economistas e empresas neste ano. Vivemos um contexto de forte tensão, marcado por guerras e conflitos no Oriente Médio.”
No cenário nacional, Baggio explicou que o dólar perdeu força ao longo de 2025, fazendo com que moedas de países emergentes se valorizassem, como o real. A projeção da entidade é de crescimento de 2,1% da economia brasileira, acompanhado de avanços de 6,3% na Agropecuária, 1,5% na Indústria e 1,9% nos Serviços.
Para o Rio Grande do Sul, o crescimento deve ser de 1,6% no Produto Interno Bruto (PIB), projeta Baggio. “O resultado fica abaixo da projeção para o Brasil, estimada em alta de 2,1%. Esse desempenho ocorre em meio ao ambiente conturbado nas relações internacionais, marcado pelas taxações dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros – que afetam especialmente os gaúchos –, pela dificuldade da indústria em ganhar tração e pela retração de 4,7% no PIB da agropecuária, fortemente impactada pela estiagem.”
Conforme o economista, na indústria, a perda de dinamismo ocorreu a partir do segundo trimestre de 2025. “Após sinais de reação no fim de 2024, a atividade voltou a enfraquecer, pressionada pelos juros elevados, pelas incertezas fiscais, pelos gargalos logísticos remanescentes das enchentes e, sobretudo, pelos efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos”, informou.
Entre agosto e novembro, as exportações industriais gaúchas para o mercado americano recuaram, resultando em perda de US$ 252 milhões em relação ao mesmo período de 2024. Mantidas as condições atuais, projeta-se que a Indústria de Transformação do RS exporte cerca de US$ 1,1 bilhão aos EUA em 2026, ante aproximadamente US$ 2 bilhões em um cenário sem tarifas — uma perda estimada de cerca de US$ 900 milhões.
Perspectivas para 2026
Para 2026, a Fiergs prevê uma retomada mais robusta da economia estadual, com avanço estimado de 2,9% no PIB — superior à expectativa de 1,9% para o Brasil. O desempenho deverá ser impulsionado sobretudo pela agropecuária, que pode registrar forte recuperação e crescer 17,6%. A indústria, por sua vez, deve apresentar expansão modesta, da ordem de 0,8%. O setor de serviços também tende a acompanhar o movimento de crescimento, embora em magnitude menor (1,7%) em comparação à agropecuária.
“As expectativas para o próximo ano são de uma boa safra. O Rio Grande do Sul deve crescer mais do que o Brasil, impulsionado pelo agronegócio. Já a indústria deve apresentar crescimento menor devido aos juros elevados e às tarifas americanas, que nos impactam significativamente”, completou Baggio.
Nacionalmente, a projeção para 2026 é de leve desaceleração, devendo ficar em 1,9%, com previsão de alta de 3% para a Agropecuária, 1,1% para a Indústria e 2% para os Serviços.
Mesmo em um ambiente de juros elevados, a atividade econômica em 2026 deverá ser sustentada por três vetores principais: mercado de trabalho — taxa de desemprego projetada em 5,5% no fim de 2025 e 6,1% em 2026, com criação estimada de 1,2 milhão de empregos formais em 2025 e 911 mil em 2026; medidas de sustentação da demanda agregada — como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e a expansão dos programas de crédito; e agronegócio — com safra de grãos elevada em 2026, sustentando segmentos industriais vinculados ao campo e contribuindo para o desempenho das exportações.