Abandone o equilíbrio

Opinião

Felipe Gonçalves

Felipe Gonçalves

Psicólogo

Abandone o equilíbrio

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É difícil pra caramba manter a vida equilibrada. Cerca de 94% das pessoas no mercado de trabalho consideram o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho um fator importante, e 73% o veem como critério central na hora de escolher um emprego. Além disso, quase metade deles – 48% – afirmam que deixariam um emprego se ele impedisse de aproveitar a vida (lifehack method, 2025). Você precisa cuidar da saúde, comer bem, fazer exercício, trabalhar duro, investir na carreira, cultivar amizades, estar com a família…

Somos bombardeados por conteúdos virais sobre ‘Wellness’ e produtividade. Será que a vida inteira cabe nisso?

Fico pensando na culpa e na sensação de deslocamento que discursos assim trazem para todos nós, mortais, à deriva nas marés da imprevisibilidade. Especialmente para você, que me acompanha aqui e provavelmente é como eu: obstinado, teimoso em equilibrar todos os pratinhos, obcecado pela excelência.

Honestamente, nessa vida de mar áspero, abandonei o equilíbrio. Ou, pelo menos, a ideia dele. Acredito mais em harmonia.

Há diferença: enquanto a balança do equilíbrio nos induz a pesos iguais e constantes em tudo, a harmonia soa mais como nossas músicas preferidas: notas altas e baixas que, juntas, nos marcam pela beleza final.

Arrisco dizer que todas as pessoas que considero bem-sucedidas também flertam com a morte do equilíbrio, conscientes ou não disso. Imagina que chato uma música de uma nota só? Prefiro dançar a vida como valsa.

Entender isso me ajuda a não repelir os momentos difíceis, mas sim entendê-los como parte do todo. Da mesma forma, acolho todas as conquistas como notas, também, passageiras.

Acredito que tudo que é grandioso se constrói mais pela constância do que por grandes atos.

As grandes entregas são como a estreia de uma peça. Quantos dias (meses, anos) foram necessários para escrevê-la?

No final do álbum, pouco importa se houve notas dissonantes. Quando você fecha os olhos e lembra da melodia… sente orgulho de tê-la vivido?

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