Apesar da excelente educação que meus pais deram para mim e para o Joaquim, gosto de acreditar que tive uma participação especial na criação do homem que ele se tornou. Tivemos o privilégio de crescer sem celular e de brincar com o tédio, então, dentro das nossas brigas clássicas de irmãos e da minha vontade de ficar sem o pentelho da casa, decidi ensinar para ele uma grande lição de vida: a arte da solitude.
Sabiamente, aos meus nove anos de idade, chamei-o para brincar no pátio da nossa casa. Como o filhote que era, cheio de energia, fomos faceiros “brincar”. Prontamente tranquei o meu inocente irmãozinho de seis anos no pátio e disse algo do tipo: “Quando tu amadurecer como eu, vai me agradecer pelo favor que estou te fazendo!”
Um de nós estava realmente aprendendo sobre a arte da solitude: eu, vendo televisão, sem ter que dividir o sofá com alguém. A outra parte da dupla estava praticando mais a “arte do desespero” após alguns minutos sozinho no pátio, sem brinquedos. Com o choro e os gritos de “Lelê! Lelê! Mana!”, nossa babá veio me questionar onde estava o Joaquim. E eu, de novo, sabiamente, disse que não tinha ideia de onde ele tinha se metido.
Pouco tempo depois, o meu plano maligno foi interrompido com alguém para dividir o sofá e trocar o canal da TV (que, segundo o tratado da casa dos Tomaschewskis, era um programa para cada — e ele mereceu uns dois depois da minha brincadeirinha).
Hoje, de vez em quando, ainda se escuta uma pessoa baixinha pentelhando pela casa: eu, atrás do Joaquim.
“Onde tu vais? O que tu bebeste? Quem é essa guria? Vamos juntos para o bar? Tu estás fumando cigarro na minha frente? Eu vou contar para o pai! Tu viu o que a mãe fez hoje?”.
Acho que, no final, prefiro ter o meu Joca para dividir o sofá e rir dos nossos verdadeiros professores. Atualmente somos grandes amigos e confidentes e, para a surpresa de muitos, nenhum de nós aprendeu muito sobre a arte da solitude.