Homens, honestidade e hospitais

Opinião

Helena Tomaschewski

Helena Tomaschewski

Estudante de Direito

Homens, honestidade e hospitais

Por

No começo do ano, fui diagnosticada com epilepsia. Até receber o diagnóstico, fiquei praticamente todo o mês de fevereiro na UTI de dois hospitais, carregando poucas memórias claras.

No tédio do hospital, em um dos meus momentos de lucidez, liguei para um dos meus melhores amigos, que tinha viajado quase mil quilômetros para encontrar o namorado da época.

A ligação foi no mesmo tom de como todas as minhas conversas estavam sendo naquele momento: um otimismo triste. Mas, conhecendo o meu amigo, percebi que estava um pouco triste demais. Tentei acalmá-lo, dizendo que já estava bem e diagnosticada, que logo iria para casa – o que eu falava para todos na época, que pareciam preocupados demais.

E foi aí que ele me respondeu:

— Não, não é isso. O Otávio (nome fictício) saiu do apartamento depois de uma discussão e eu o segui de carro. Vi ele beijando outro numa praça.

Aos prantos, ele me dizia:

— Nossa, amiga, não consigo imaginar estar numa situação pior que a minha. Acho que a pior coisa do mundo são os homens.

Alguns poderiam ter ficado ofendidos com a fala do meu amigo — mesmo ele sendo do gênero masculino. Outros, por ele me dizer isso enquanto eu estava em um leito de hospital. Mas eu ri:

— Amigo, ele não era homem com “h”, relaxa. E, internada em um hospital, te digo que tem coisa bem pior.

Ele pediu desculpas, riu e complementou:

— Era com “h” sim! Os piores são com “h”! Na verdade, as piores coisas são com essa letra! Olha o que está acontecendo com a gente: homens e hospitais! Preciso da minha cartomante para falar sobre nosso destino.

— Para ela ler o nosso horóscopo, também com “h”?

Rimos juntos: eu, com aparelhos hospitalares na pele e nas veias, e ele, com um par de chifres. Nessas fases difíceis é crucial levar a vida com alegria, para aguentar as dores do corpo e do coração.

Foi um dos poucos dias leves naquele hospital e, no encerrar da ligação — interrompida por alguém querendo medir minha pressão ou algo do tipo —, meu amigo se despediu:

— No final, as únicas coisas boas com essa letra são honestidade, humor e, claro, as Helenas. Hahaha…

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