O sapo de cartola

CAPÍTULO Z

O sapo de cartola

Helena Tomaschewski, estudante de direito

Por

Atualizado domingo,
14 de Setembro de 2025 às 12:07

O sapo de cartola
Helena Tomaschewski, estudante de direito (Foto: Jô Folha)

Cresci sendo muito incentivada à leitura, à pintura e à criatividade em geral. Meu pai me fazia alugar livros na biblioteca toda semana, e fui colocada em aulas de pintura. Com pais formados em Jornalismo e Filosofia, ser boa em Exatas não era uma opção.

Rabiscava nos guardanapos de restaurantes, desenhava o que eu admirava e, em uma dessas, criei o personagem do meu pai. No tapete da sala, desenhei o chefe da família enquanto assistíamos ao falecido — e provavelmente inapropriado para uma criança de seis anos — Zorra Total. Mostrei para o meu pai, orgulhosa da minha obra de arte, e foi assim que acabei ilustrando o livro dele, De A a Z – Contos de Sobrevivência Paterna. Não se iludam: eram rabiscos que até hoje não sei como ele conseguiu ver como potencial artístico.

O desenho e a escrita traçaram meu crescimento e, no tédio da pandemia, comecei a pintar aquarelas. Tantas, que meus pais ficaram com medo de eu virar hippie e vender minha arte na praia. Minhas pinturas vinham de histórias que me inspiravam. E a primeira tinha que ser da minha preferida: a vez em que a minha avó colocou uma cartola em um sapo.

Era o dia de levar o animal de estimação para a escola do meu pai, nos longínquos anos 70. Na falta de um, minha avó buscou a segunda melhor opção — na cabeça dela. Caçou o maior sapo que encontrou, fez uma cartola de cartolina, como se só o animal já não fosse estranho o suficiente, colou na cabeça do coitado e o colocou em um pote de vidro. Acho que a criatividade corre nas veias da família.

Por motivos óbvios, chamou bastante a atenção. Ela sempre me conta muito orgulhosa. Chamou ainda mais os olhares de todos quando o sapo começou a ter uma leve reação alérgica à cola – sim, nos anos 70 a defesa da causa animal ainda engatinhava.

Então, assim foi minha primeira aquarela – e a minha preferida: um sapo de cartola. Hoje, para cada história marcante que vivo, escrevo e ilustro. Obrigada, pai e mãe, pelo incentivo. Obrigada, vó, por sempre me proporcionar as melhores risadas.

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