Progresso Futebol Clube é referência no trabalho com as categorias de base

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Progresso Futebol Clube é referência no trabalho com as categorias de base

Há 36 anos a entidade pelotense descobre e encaminha jovens talentos para um futuro de profissionalização no esporte

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Progresso Futebol Clube é referência no trabalho com as categorias de base
Clube conta com apoio de parceiros para manter atividades. (Foto: Gabriel Leão)

Pelotas tem uma entidade referência como incubadora de jogadores de futebol nas categorias de base. Há 36 anos o Progresso Futebol Clube descobre e encaminha atletas para um futuro de profissionalização no esporte. Nomes como o do ponta-esquerda e meia-atacante Taison, do volante Emerson e do meio-campista Daniel Carvalho, que chegaram até a Seleção Brasileira, ou mesmo do ex-capitão do Sport Clube Internacional, Rodrigo Dourado, que foi campeão Olímpico com a Seleção Brasileira, corroboram com a reputação de celeiro de jovens talentosos. Uma fama que entusiasma quem trabalha no e pelo clube e os meninos que sonham em passar em um dos peneirões da entidade.

Ter um clube focado na formação de futuros atletas é resultado de um sonho do ex-atleta Alcyone Barboza Dornelles. O empresário jogou futebol profissional na década de 70 até início dos anos 80. A despedida dos campos foi em função de problemas no joelho.

Mesmo fora das competições como jogador, Dornelles seguiu no esporte trabalhando como técnico, a partir de 1985. Ele passou pelas categorias de base dos principais clubes pelotenses: Pelotas, do Brasil e do Farroupilha. Também exerceu a função no futsal do Paulista e do Caixeiral. Em 1989, assumiu a Escolinha do Progresso Futebol Clube, onde começou o trabalho, que virou referência na preparação de jovens atletas.

Bem relacionado, Dornelles conquistou a partir de 2003 uma parceria com o Sport Club Internacional. Para este, que é um dos maiores clubes do futebol gaúcho e brasileiro, o Progresso dá exclusividade a todos os atletas formados pela entidade.

Coordenador do clube, o educador físico Idalberto Ferreira Alves Júnior conta que o processo de formação de atletas no centro esportivo começa cedo. Crianças a partir dos dez anos já podem ser avaliadas para integrar as equipes de base, que são organizadas por categorias: sub-10/11, sub-12/13, sub-14/15 e sub-16/17, sempre reunindo faixas etárias de dois em dois anos.

Escolinha

Há pouco tempo o projeto esportivo ampliou a sua atuação com a escolinha de futebol para crianças. A iniciativa visa oferecer formação esportiva para crianças de faixas etárias ainda mais jovens, com turmas até o sub-15.

Diferentemente das equipes de rendimento, a escolinha funciona em formato pago, ou seja, com mensalidade.

As atividades da escolinha ocorrem nas quadras de futebol society construídas recentemente no Clube Progresso, que fica na rua Luís de Camões, 479, no bairro Três Vendas. O que ampliou o acesso e a infraestrutura à entidade. Essas mesmas quadras servem também como fonte de renda, por meio de aluguel, e também para o treinamento dos jogadores mais velhos.

Os jovens aspirantes ao profissional também treinam no Estádio Gilmar Bermudes, do Clube Atlético Bancário. A utilização do campo que fica no bairro Simões Lopes é  viabilizada por meio de parceria entre as duas entidades. Quando em competições, as diferentes categorias do Progresso jogam as partidas oficiais neste tradicional estádio da avenida Brasil.

Neste sábado, às 15h, por exemplo, o time Sub-15 joga contra o Juventude pelas quartas de final do Campeonato Estadual da categoria (leia mais na página 27). De acordo com o coordenador, a entrada não é cobrada, mas quem acompanha os jogos, geralmente, são amigos e familiares dos atletas, eles pagam um valor simbólico para contribuir com o time. “Para um jogo como esse partimos de um custo de aproximadamente R$ 5 mil”, comenta Alves.

Os aluguéis de parte das dependências da sede são a maior fonte de renda do Progresso. Desde o princípio desse projeto, Alcyone Dornelles também tem despendido recursos próprios para manter o sonho vivo.

Há alguns anos o Clube tem também o apoio/patrocínio de seu famoso atleta, o jogador Taison Barcellos Freda, atualmente jogando no clube grego Paok F.C. “Quando o Taison está de férias ele passa seus dias aqui. Traz chuteiras para os meninos”, conta o coordenador.

Trabalho silencioso

O Progresso se tornou um projeto de futebol que atende jovens de Pelotas de diferentes bairros e condições sociais. O trabalho desenvolvido por lá é, por vezes, silencioso, mas tem importante impacto social e esportivo no município, ao transformar a vida de muitos meninos e suas famílias.

“O nosso projeto é aberto a todos. Temos de todas as classes sociais, a gente não separa nada. A gente não cobra nada dos meninos no clube. O que importante é dentro do campo, se tiver uma situação que a gente vê que vai desenvolver ficamos com o menino. Mas tem muitos meninos da periferia. Inclusive a gente diz que a gente salva vidas, porque a meninada, ao invés de estar por aí, fazendo qualquer coisa, está aqui treinando conosco e aprendendo muita coisa boa”, fala o coordenador.

Com cerca de 30 atletas em cada categoria, o Progresso atende aproximadamente 120 meninos. Além disso, a escolinha reúne uma turma ainda maior. Apesar da estrutura enxuta, o Progresso oferece suporte essencial aos atletas, especialmente para aqueles oriundos de famílias em situação de vulnerabilidade social. “Eles não têm renda aqui, o Alcyone sempre trabalhou com ajudas, se tem um menino que não tem uma condição muito boa, que ele sabe que o menino precisa, ele vai dar um auxílio, principalmente com material esportivo”, explica.

Por exemplo, quem não consegue comprar uma chuteira, o presidente do clube dá um jeito de ajudar.

Taison, um dos principais nomes revelados pelo clube, é considerado um exemplo de dedicação e retorno social. Mesmo com uma carreira internacional consolidada, ele faz questão de manter contato com o local onde tudo começou.

A lista de atletas revelados pelo projeto é extensa: Emerson, que foi para o Grêmio, Daniel Carvalho, Rodrigo Dourado, Titi (zagueiro), Josimar (falecido no acidente da Chapecoense, de Santa Catarina), Heitor, Léo Borges, entre outros. Ex-atletas do Progresso estão em diferentes níveis do futebol brasileiro e do exterior, para orgulho do comando técnico da casa e dos jovens.

Manter os pés no chão

Apesar dos sonhos de fama e sucesso, a coordenação do projeto mantém os pés no chão. “A gente conversa muito com eles. Orientando, principalmente a função escolar, que é muito importante e tem que andar ao lado. Infelizmente, o triunfo de chegar a um nível bem alto é para poucos. Nem vão conseguir uma carreira, de galgar essa profissão, se tu pensar todos eles têm esse sonho, mas não é fácil viver disso. Mas a gente não tira essa perspectiva, mas tem que ter os pés no chão, e o principal é que eles não andem no caminho errado.”

O próprio  Idalberto Ferreira Alves Júnior é exemplo disso. O atual coordenador foi atleta do Progresso, no final da década de 1980 início de 1990. “Eu iniciei carreira como atleta, mas tive uma lesão grave no joelho. Fiz duas cirurgias sem sucesso. Então procurei continuar os estudos, me formei e segui ligado ao futebol. Estar aqui hoje é um enorme prazer. Não tem explicação falar do Alcyone, como se fosse um pai pra mim. E estar trabalhando junto, coordenando um projeto tão bonito que ele construiu com o próprio suor é muito satisfatório.”

Trampolim para outras oportunidades

O técnico da categoria Sub-15, Vidal Rocha Neto, formou-se em Educação Física em 2006, e desde então desejava a função de treinador do Progresso. Chegou no Clube e começou a trabalhar esperando a chance de realizar o sonho. “Fui preparador físico até começar como técnico da categoria sub-13. Eu estou no Clube há 18 anos”, conta.

Com essa experiência, Rocha Neto conta que não é só talento que conta para a estruturação de uma carreira no profissional, a dedicação aos repetitivos treinos podem ajudar a superar deficiências técnicas iniciais. “Já vi menino com muito potencial, que conseguiu chegar, já vi menino que começou um pouquinho devagar, mas a gente viu que tinha um certo talento e pela força de vontade acabou vencendo. O funil do futebol é muito complicado, às vezes, acaba pingando aquele jogador que vai vencer pelo esforço não tanto pelo talento”, comenta.

O técnico compara a passagem dos meninos pelo Progresso com a de quem sobe num trampolim.

Com o seu time nas quartas de final do Estadual, na quinta-feira, o técnico estava com a equipe em campo, em pleno treinamento. “Hoje é um trabalho diário, eles têm vários focos, se desviam bem rápido, é uma geração que tem a multimídia nas mãos e dispersam um pouco. Mas a gente vai se motivando, até porque isso aqui é para eles. Essa classificação – estar entre os quatro do Estado – é para eles se destacarem, serem vistos e alcançarem voos maiores. Um jogo num sábado pode mudar toda a vida deles”, fala.

O trabalho no Progresso é todos os dias. Os atletas treinam ao menos duas horas por dia e a partir dos 14 anos começam com o trabalho físico. Aos sábado são os jogos.

Sonho na capital

Os atletas Derique Conceição Silveira e Pedro Henrique Alves Gouvea, ambos com 15 anos, recém completados, estão no Progresso desde os dez anos. “É uma honra para mim, vestir essa camisa. E é o sonho meu e da minha mãe. Ela sempre quis que nós chegasse longe. Quem nem meu pai, que foi jogador profissional”, conta Derique, que é volante.

O pai do atleta, Carlos Alberto Pereira, jogou no Botafogo e São Paulo e atualmente é treinador da Sub-13. Silveira e Gouvea jogam juntos desde pequenos. Os garotos contam que ficaram muito felizes de terem passado também juntos pelo peneirão. “Estamos aqui desde os 11 anos e temos um sonho de se tornar um jogador profissional”, diz o atacante Gouvea.

Os jovens dizem que o mais difícil nesta jornada é abrir mão de algumas coisas, como estar com a família ou amigos, mas quando se tem uma meta é necessário. “A gente tem que focar nos estudos também”, fala Silveira.

Os meninos sonham, claro, com a profissionalização e, quem sabe, com um contrato no Internacional, time do coração de muitos dos atletas do Progresso, confessam.

Neste sentido, o jogador Taison é um exemplo a ser seguido. “Ele é meio próximo a mim e quando está aqui está com nós, ajuda, faz treinos”, comenta Gouvea ou P.H., como ele gosta de ser chamado.

Perguntado sobre algum conselho inesquecível do ídolo, P.H. diz: “É que quando estou na frente do goleiro, é ter calma e frieza. Para finalizar e fazer o gol. Isso a gente não pode esquecer”, fala.

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