A Plataforma Alimenta Cidades, do governo federal, aponta que 25% da população de Pelotas vive em pântanos alimentares e 16% vive em desertos alimentares. O levantamento também revela que para cada 10 mil habitantes, Pelotas tem 23,37 estabelecimentos comerciais de alimentos saudáveis e 10,99 estabelecimentos de alimentos não saudáveis.
Pântanos alimentares são áreas em que há abundância de estabelecimentos que oferecem opções alimentares não saudáveis, como alimentos ultraprocessados, em até 15 minutos de caminhada para cada mil habitantes
Desertos alimentares são áreas em que a disponibilidade e a acessibilidade aos alimentos saudáveis são limitadas em 0 a 5 estabelecimentos que ofertam alimentos saudáveis em até 15 minutos de caminhada para cada mil habitantes.
Risco à qualidade alimentar
Para o nutricionista Bruno de la Rocha, apesar de haver uma boa oferta de alimentos saudáveis, a exposição excessiva a alimentos não saudáveis influencia os hábitos da população, em especial em regiões mais pobres. “O fato de mais de um quarto da nossa população viver em pântanos alimentares mostra que o acesso fácil a produtos ultraprocessados ainda representa um risco significativo à qualidade da alimentação e à saúde dos nossos moradores”, afirma.
O profissional destaca que o acesso facilitado a alimentos saudáveis é fundamental para a prevenção de doenças como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. “Quando o ambiente alimentar oferece mais opções acessíveis, próximas e economicamente viáveis de proteínas de qualidade, frutos e vegetais, as pessoas tendem a fazer escolhas mais saudáveis”, explica.
“Por outro lado, se o ambiente oferece majoritariamente alimentos ultraprocessados e pobres em nutrientes, isso normaliza padrões alimentares prejudiciais e perpetua ciclos de adoecimento, especialmente nas comunidades mais vulneráveis. As escolhas precisam ser mais fáceis para a nossa população”, sustenta.
Alternativas para melhorar a alimentação
Para reverter esse quadro, o nutricionista aponta a necessidade de identificar áreas críticas para incentivar feiras livres e hortas comunitárias. Ele também defende regular a presença de estabelecimentos de fast food e ultraprocessados, especialmente perto de escolas e unidades de saúde, uma rotulagem mais clara dos alimentos e o fortalecimento de programas de segurança alimentar.
Programa federal ‘Alimenta Cidades’
Numa tentativa de combater essa realidade, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) publicou na última semana a portaria que amplia a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional nas Cidades – Alimenta Cidades para 91 municípios em todo o país com mais de 300 mil habitantes.
A estratégia visa garantir o acesso regular a alimentos adequados e saudáveis, com foco em territórios periféricos e em regiões classificadas como desertos e pântanos alimentares, onde há restrições de oferta de alimentos frescos.
O objetivo é ampliar a produção, o acesso, a disponibilidade e o consumo de alimentos saudáveis, fortalecendo a segurança alimentar e nutricional nos centros urbanos e contribuindo para o combate à fome e à pobreza.
O anúncio do governo, no entanto, ainda não abrange Pelotas e Canoas. Segundo o ministério, os dois municípios serão contemplados em uma portaria específica direcionada prioritariamente à agenda climática e à agenda de alimentação urbana.