É extremamente repetitivo falar na relação azeda que se estabeleceu entre governo e Câmara de Vereadores em Pelotas. Mas o fato é que dia após dia, a situação piora. Na semana passada, o assunto era impeachment por conta de uma viagem do prefeito, uma barra completamente forçada. Essa, rompe com o fato de um servidor de dentro da secretaria de Governo fazendo um vídeo completamente tosco com inteligência artificial atacando o vereador Cauê Fuhro Souto. No meio disso tudo, Pelotas não vira assunto. O desenvolvimento trava. E quem olha para cá e vê essa “gateação”, num bom gauchês, fica na dúvida: por qual motivo eu investiria aí? Para onde a cidade está caminhando?
É mais um daqueles casos em que há uma receita de bolo quase pronta. O vereador Cauê e o governo não se bicam desde o início, embora membros de uma mesma federação. Ninguém deixou claro publicamente o motivo que fez a lua de mel eleitoral acabar antes mesmo da posse de Marroni. Sabe-se que o vereador ficou indignado com algumas nomeações para secretarias – o caso da Cultura é o mais gritante – e de lá para cá se tornou a principal voz da oposição. Sabe-se também que o parlamentar domina o uso de redes sociais, lá imprime seu ritmo e faz barulho.
Enquanto isso, o governo tem uma dificuldade gritante em se comunicar – pelo visto interna e extremamente. É na falta de diálogo com os vereadores que a relação escorregou. Já houve dança nas cadeiras por conta de cargos em secretarias, duas inclusive seguem vagas. Com a própria imprensa é assim também. É raríssimo conseguir uma entrevista com secretários, por exemplo. A maioria fica na frieza das notas, enviadas com base em perguntas que o repórter precisa redigir, sem formar um diálogo ou ter a possibilidade de ampliar um tema durante a conversa. E assim, há um desgaste em várias frentes com menos de seis meses de gestão.
O problema é que a coisa toda da relação entre políticos degringolou para um momento nada saudável. Falar em impeachment é sempre um perigo – a mais extrema das soluções da democracia –, ainda mais por um motivo um tanto quanto bobo quanto uma viagem, algo que já foi até declarado inconstitucional pela Justiça. Não pode ser arma de ameaça constante para um governo democraticamente eleito. Enquanto isso, estupidamente, um assessor, servidor de confiança do mais alto escalão, comete um ataque ridículo contra um parlamentar eleito, com um argumento ainda mais sem sentido. E Pelotas, senhores? Quando vão olhar para ela e suas demandas, que crescem a cada dia?