Em pouco mais de um ano em atividade em Pelotas, o Escritório Técnico da Fronteira Sul, vinculado à Superintendência do Iphan no Rio Grande do Sul, já trabalhou com mais de cem projetos e que poderão ser presenciados, a partir do segundo semestre com intervenções no Grande Hotel e Casarão 6, em Pelotas e na ponte Internacional Barão de Mauá, em Jaguarão. À frente do Escritório está o chefe Gilmar Pinheiro.
Como o senhor avalia o patrimônio histórico da região?
A região sul do Rio Grande do Sul possui um patrimônio histórico de imenso valor para o Brasil, tanto pela sua riqueza arquitetônica quanto pelo seu papel na formação cultural, social e política do país. O Iphan reconhece essa relevância com o tombamento de bens culturais em seis municípios da região: Pelotas, Rio Grande, Bagé, Piratini, Pedras Altas e Jaguarão. Esses bens refletem momentos diversos da nossa história — como o ciclo do charque, o período imperial, os movimentos republicanos e a arquitetura eclética do início do século 20.
Por que Pelotas foi escolhida para ser sede de um escritório técnico?
Por ser referência regional em termos de patrimônio histórico, planejamento urbano e articulação cultural. A cidade abriga um dos maiores conjuntos arquitetônicos tombados do Brasil, reconhecido nacionalmente por sua preservação e riqueza histórica.
Além disso, Pelotas teve papel de destaque no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, o que resultou em investimentos significativos em restauração e infraestrutura urbana, reforçando a necessidade de uma presença técnica mais próxima e permanente da autarquia.
A cidade conta ainda com universidades, centros de pesquisa e instituições públicas que atuam diretamente com patrimônio, o que cria um ambiente favorável para o desenvolvimento de projetos integrados de preservação.
Desde o início das atividades, o que já foi observado de demanda na região?
Desde a inauguração do escritório, em 26 de abril de 2024, o Iphan identificou uma demanda expressiva e diversificada na região. O escritório atua na análise de centenas de projetos ao longo do ano, abrangendo desde propostas de restauração integral de bens tombados até intervenções de menor escala, como reformas, ampliações, instalação de publicidade em áreas protegidas, além de fiscalizações, consultas prévias e pareceres técnicos.
Há também demandas por orientação técnica junto a prefeituras, arquitetos, engenheiros e proprietários de imóveis tombados, o que reforça a importância de termos uma presença institucional mais próxima e acessível na região.
Além disso, percebemos a necessidade de intensificar ações de educação patrimonial e fortalecer os vínculos entre o Iphan e as comunidades locais, especialmente em cidades menores, onde muitas vezes o conhecimento sobre a legislação e os instrumentos de preservação ainda é limitado.
Como a população pode se sentir pertencente ao patrimônio de sua cidade?
A sensação de pertencimento da população ao patrimônio de sua cidade nasce do reconhecimento de que esses bens históricos, arquitetônicos e culturais fazem parte da identidade coletiva e da memória viva da comunidade.
A participação em atividades educativas, culturais e de formação, como visitas guiadas, oficinas, rodas de conversa e eventos locais, ajuda a criar esse vínculo afetivo. O diálogo aberto entre as instituições responsáveis pela preservação, os gestores públicos e a sociedade civil é essencial para que a população se sinta ouvida e envolvida nas decisões que afetam o patrimônio.
Como o senhor avalia os projetos desenvolvidos com educação patrimonial?
A educação patrimonial é um dos pilares fundamentais para a preservação e valorização dos bens. É preciso avançar para além de ações isoladas e consolidar programas que integrem escolas, comunidades e agentes públicos, promovendo uma educação que dialogue com a realidade local e que valorize as múltiplas expressões culturais do território.