Uma massa de origem polar, que começou a atuar no Rio Grande do Sul nesta última terça-feira (27), deverá consolidar as temperaturas baixas na região sul até o início de junho. Já considerada pelos meteorologistas como a mais intensa registrada em 2025, a onda de frio alerta também para a situação das pessoas em vulnerabilidade social, em especial da população em situação de rua.
No ano passado, um levantamento do Ministério Público (MP) gaúcho revelou que Pelotas tinha 3.937 pessoas em situação de rua e era a cidade com a maior população nestas características do Estado. No entanto, a então gestão municipal refutou estes dados e afirmou que eram 743 pessoas inscritas no Cadastro Único declaradas como moradoras de rua, dado retificado depois pelo MP. Neste ano, o número informado pelo executivo pelotense é de 836 pessoas cadastradas nestas condições.
Para o acolhimento de pessoas em situação de rua, a prefeitura de Pelotas afirma que o número de vagas na Casa de Passagem foi ampliado por conta da onda de frio, passando de 80 para cem. A média mensal de acolhimentos é em torno de 60 usuários por dia na Casa de Passagem e 120 no Centro Pop. Nestes espaços, são oferecidas refeições, atendimento psicossocial, médico, espaço para higiene pessoal, agasalhos e pernoite.
Assistência
O atendimento no Centro Pop é realizado, de forma espontânea, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na rua Senador Mendonça, 269. No local, os usuários recebem três refeições diárias (café, almoço e lanche da tarde). Além disso, são oferecidos os serviços de abordagem social, encaminhamentos em geral (Caps AD, Unidades de Saúde, emissão de documentos e afins), elaboração de currículos, oferta de atendimentos em saúde pelas equipes do Consultório na Rua e do Curso de Medicina da UCPel, roda de conversa, grupos temáticos e “Pagode do pop” (roda de “samba” onde os próprios usuários tocam instrumentos e cantam).
Frio revela as dificuldades
Na porta do Pronto Socorro de Pelotas, pessoas em situação de rua tentam abrigar-se do frio e da chuva. Daniel, 47, é um deles. Vivendo há cinco anos nestas condições, afirma que busca se aquecer estando perto de outros moradores de rua. “Mais perto passa menos frio, mas ainda assim está complicado”, diz.
Sobre a ajuda para se alimentar, ele reforça a atuação de iniciativas independentes, que percorrem as ruas de Pelotas entregando comida e agasalhos aos que não conseguem, ou não procuram, as casas de acolhimento. “Sempre vem um pessoal da igreja nos entregar marmita, aí nos veem assim [mostra o cobertor molhado da chuva] e nos dão novos”, comenta o ex-ajudante de obras.
Antes do horário de abertura dos albergues, Elizandro, 40, anda pelas ruas de Pelotas e tenta proteger-se embaixo de marquises. Ele comenta que recebe toda a assistência no Centro Pop e que é um local de encontro com outros amigos que vivem nas mesmas condições.
Elizandro vive nas ruas há oito anos e, para essa onda de frio, diz que não têm roupas suficientes para se proteger, pois nos locais de acolhimento a oferta de roupas masculinas é pouca. “Estou só com essa roupa do corpo e está molhada, em todos os lugares é bem difícil achar roupa pra mim, tem mais pra mulher e criança”, destaca.
O ponto abordado por Elizandro também é reforçado pela Secretaria de Assistência Social de Pelotas, que afirma que a demanda por roupas masculinas adultas em boas condições é crescente.
Campanha do Agasalho
Questionada se a tradicional Campanha do Agasalho seria retomada em 2025 em Pelotas, a prefeitura afirmou apenas que o Centro Pop e a Casa de Passagem estão disponíveis como ponto de coleta de doações. Uma equipe trabalha na destinação das roupas, já selecionadas e limpas, aos usuários dos espaços.
No ano passado, por conta do período de enchentes, a Prefeitura de Pelotas não realizou a campanha. O município recebeu, à época, aproximadamente 15 mil toneladas de roupas que foram doadas às pessoas em situação de vulnerabilidade social durante a calamidade.
Iniciativas que acolhem
A ONG Alimentar é um dos exemplos de grupos autônomos que se reúnem para ações assistenciais às pessoas em situação de vulnerabilidade social. A onda de frio mobilizou o grupo no lançamento de uma campanha para arrecadar cobertores e roupas
O grupo segue com sua ação principal todos os domingos, no parque Dom Antônio Zattera, das 11h às 13h. “Entregamos 300 marmitas, pães, doces e sucos para pessoas em situação de rua e de vulnerabilidade social”, destaca a idealizadora e presidente, Carla Pereira.
As doações podem ser entregues na sede da ONG Alimentar, que fica na rua Miguel Barcellos, 392, no centro de Pelotas. Também é possível fazer o agendamento para entrega de doações pelo telefone (53) 99130-2802.