Apenas 24% dos 3.823 quilômetros de ferrovias da Malha Sul – que abrange os estados do RS, SC, PR e SP – estão operando atualmente. Com contrato até fevereiro de 2027, a Rumo Logística tem recebido críticas do governo do Estado e de diversas entidades empresariais que se posicionam contra a renovação de contrato com a concessionária e cobram melhorias no sistema ferroviário gaúcho.
Desde novembro, um Grupo de Trabalho avalia a situação da Malha Sul. A pedido do Tribunal de Contas da União (TCU), em junho o Ministério dos Transportes deve apresentar um plano de ação para a concessão.
Conforme o TCU, o governo federal está negociando a renovação de contrato com as concessionárias, sem observar o histórico de descumprimento de deveres contratuais. Felipe Ferreira, coordenador regional de Fiscalização Ferroviária da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), afirma que o órgão já emitiu mais de 300 autos de infração relacionados à Malha Sul.
Entre as medidas em análise pelo Ministério está a construção de variantes e o redirecionamento de trechos não utilizados, além da possibilidade de novos modelos de concessão. Um dos modelos estudados prevê a abertura de trechos para múltiplas operadoras.
Cobranças
A Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) foi uma das entidades mais contundentes ao apontar o abandono da infraestrutura ferroviária gaúcha e a necessidade urgente de uma reestruturação. “Não podemos mais conviver com uma concessão malsucedida. Após todo o esforço de reconstrução pós-tragédia, este é o momento de acelerar todas as iniciativas possíveis. Não há espaço para prorrogar um contrato com uma empresa que sistematicamente falha em nos atender”, argumentou o presidente Rodrigo Sousa Costa.
Estudo técnico reforça urgência
A crítica da entidade está ligada aos dados apresentados pelo vice-governador Gabriel Souza (MDB), em pesquisa realizada pela Portos RS. Conforme o levantamento, o volume de cargas transportadas por ferrovias caiu quase 50% desde 2006, com a velocidade média dos trens sendo a quarta mais baixa do Brasil – 12 km/h.
De acordo com o estudo, a modernização da Malha Sul pode reduzir em até 22% o custo do frete das mercadorias destinadas ao Porto de Rio Grande. A análise conclui que a falta de investimentos estruturais na ferrovia compromete a competitividade do RS, principalmente no escoamento da produção.
Cristiano Klinger, presidente da Portos RS, afirmou, em entrevista recente ao A Hora do Sul, que a modernização é estratégica para o Estado. “A modernização da malha ferroviária é essencial para recuperar a competitividade do Rio Grande do Sul e integrar os portos ao restante do país de maneira eficiente. O modal ferroviário precisa ser reativado como vetor estratégico da infraestrutura logística estadual”, destacou. Atualmente, o RS tem 88% da sua carga transportada por estradas, 23% acima da média nacional, de 65%.
O deputado Felipe Camozzato (Novo), presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias, afirma que o custo logístico do RS equivale a 21,5% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho. Segundo o político, uma redução para 18% geraria uma economia anual de R$ 24,7 bilhões. “Investir no Rio Grande do Sul pode trazer um retorno significativo para o Brasil como um todo”, argumenta.
União da região Sul
O presidente da Federasul propõe que os estados do Sul – RS, SC e PR – atuem como um bloco único para reivindicar melhorias na infraestrutura logística. “O que for feito nos próximos dois anos definirá o futuro dos próximos 30 [anos]. Precisamos de visão estratégica para garantir competitividade aos nossos produtos e segurança ao transporte”, afirma.