Êmily Passarinho, de Manaus, é produtora cultural, cantora e compositora. Formada pela Unipampa Jaguarão, iniciou na música em 2015. Em 2021, lançou o single “Coração Marinheiro” e colaborou com Davi Batuka em produções musicais. Suas composições foram destacadas em festivais como o Vozes Contemporâneas e o Festival de Música Negra do Ilê Aiye. Atualmente, integra o Coletivo Batucantada e o grupo Filhas de Obá, onde apresenta um show autoral com músicas que celebram a cultura afro-brasileira. No Dia Mundial do Compositor, Êmily fala sobre sua carreira e conta detalhes sobre suas composições.
Como foi o seu processo de descoberta e desenvolvimento como compositora?
Sempre fui amante da poesia e da arte, uma boa ouvinte. Minhas primeiras composições eram poesias que, posteriormente, foram musicadas. Tenho participação com poesias em dois livros, mas a música me envolveu profundamente. Sou uma compositora recente e, acredito, com boas relações. Confesso que ainda demoro a acreditar que sou compositora. Minhas composições do último ano surgem, como disse João Nogueira, como “uma luz que chega de repente, com a rapidez de uma estrela cadente, que acende a mente e o coração”. A inspiração vem de um estado de animosidade tão profundo que a única maneira que encontro é escrever. Algumas pessoas estudam muito, e acho que eu deveria também, mas até hoje minhas composições nascem das experiências de vida, somadas à poesia, que nunca me deixa “morrer”.
De que forma a cultura afro-brasileira influenciou suas composições?
Influencia em tudo. Desde que conheci o candomblé, um caminho se apresentou. Os atabaques, o canto, a roda, os xequerês, tudo me lembrou a ancestralidade. Isso, tentam apagar sempre, ainda mais porque sou parda, uma mulher negra de pele clara, mas isso é um assunto polêmico. As minhas composições falam das energias da natureza como divindades, contam “itans”, histórias que aprendi no terreiro sobre a mitologia dos Orixás. Para o povo de Orixá, uma pedra é uma divindade. E eu, que sempre amei a poesia, me encontrei no mistério do axé.
Quais foram os maiores desafios como compositora e produtora cultural?
O maior desafio é a grana. Eu tenho um menino de dois anos. Como é que trabalha ou canta no boteco na madrugada? Não canta. Então, eu vou indo com a expertise que tenho na produção cultural e vou tateando alguns editais para ver o que vinga. Eu sou uma boa produtora cultural mas, por enquanto, trabalho como autônoma. Quando tem um edital eu consigo enviar propostas, torcendo para que sejam contempladas. E tem que ter malandragem nessa corrida.
Como você percebe a sua evolução artística e o impacto do seu trabalho na cena musical?
Só vou sabendo o caminho, caminhando. Meu trabalho na cena está sendo construído. Eu tenho a minha arte, meu axé no jogo, então é só seguir firme e acreditar. De vez em quando a mente atrapalha um pouco, não é fácil não. Depois de uma onda baixa, sempre vem alguma composição. Eu sou assim. O impacto do meu trabalho na cena é gigante. Imagine você cantando pontos de terreiro no meio da Fenadoce e aquelas mulheres doceiras todas saindo de suas bancas e vindo ver. Pois aconteceu.