Anunciado como secretário de Educação no governo do prefeito eleito Fernando Marroni (PT), o professor Mauro Del Pino é doutor em Educação e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), da qual foi reitor entre 2013 e 2017. Agora, ele volta ao cargo que ocupou no primeiro governo de Marroni, entre 2001 e 2004.
Del Pino explica que o momento é de fazer um amplo diagnóstico da rede municipal através do diálogo com as direções das escolas e com as professoras e professores. “A qualidade da educação passa pela valorização do magistério. Uma das questões centrais da nossa gestão vai ser a valorização do magistério, no sentido de que ele tem que ser ouvido. Vamos desenvolver uma política de gestão democrática. As equipes diretivas e as professoras têm que ser partícipes da construção de um novo currículo para a rede pública municipal”, afirma.
Segundo o professor, é necessário reconstruir o currículo das escolas para atender as necessidades contemporâneas. “Não se discute a cultura digital, as questões das fake news. Os temas que devem preparar a juventude para entrar no mercado de trabalho e viver com dignidade são outros, temos que ter um letramento digital desde a educação infantil”, explica.
“Precisamos de um forte diálogo para as comunidades entenderem que o volume de recursos, no primeiro momento, não vai ser suficiente para fazermos tudo aquilo que é necessário, mas gradativamente vamos estabelecer projetos e um cronograma adequado para atender toda a rede pública municipal”, diz Del Pino.
Déficit na educação infantil
O principal problema e a maior reclamação quando o tema é a educação de Pelotas é o déficit de vagas na educação infantil. Atualmente, cerca de 800 crianças entre zero e seis anos de idade estão fora da escola por falta de vagas. Enquanto mais de 2,2 mil crianças são atendidas em escolas da rede municipal, 385 estão em distribuídas em nove escolas filantrópicas parceiras e outras 325 estão em escolas privadas credenciadas.
Pela legislação, crianças acima dos quatro anos precisam estar em escolas, enquanto de zero a três anos é facultativo e depende do interesse das famílias. “É uma demanda variável, mas que tem crescido, felizmente, porque as famílias têm se dado conta da importância de acessar esse direito”, diz Del Pino.
Segundo o secretário, a urgência no momento é prorrogar o contrato com as escolas privadas credenciadas para em breve realizar uma nova licitação para atender a demanda até que a rede pública seja capaz de acolher estas crianças. “A intenção do prefeito Marroni é atendermos essas crianças com a rede pública municipal, então vamos em busca de financiamento e de recursos próprios para construirmos escolas adequadas, que atendam às necessidades das crianças”, afirma.
Demandas estruturais
Enquanto na educação infantil o problema é a falta de vagas, no ensino fundamental o desafio é a precariedade estrutural de parte das escolas da rede. “Temos uma demanda por qualificação de espaço físico enorme. Fiquei bastante preocupado com o cenário que estou encontrando nas escolas”. “Grande parte do recurso que temos previsto no orçamento vai ter que ser destinado para essa realidade”, avalia.
Para iniciar esse processo de reestruturação dos espaços físicos, Del Pino defende um diagnóstico para identificar os problemas mais urgentes. “Por exemplo, no Núcleo Habitacional Getúlio Vargas, sabemos do fim do contrato dos contêineres que estão servindo como salas de aula e estamos preocupados porque é um valor muito grande. Não dá para ficar investindo em aluguel na medida em que precisamos de reforma nessas escolas”.
Segundo Del Pino, com o crescimento urbano de Pelotas será necessário planejar novas escolas em locais estratégicos. “Vamos dialogar com o governo do Estado para que também cumpra com a responsabilidade de ofertar educação fundamental de qualidade com escolas bem estruturadas”, diz.
“O coração de uma escola tem que ser a biblioteca, e temos escolas com bibliotecas extremamente precárias, temos escolas sem laboratórios, sem áreas adequadas de lazer. O desafio é enorme”, avalia.
Equipes
O futuro secretário considera que há um déficit de servidores de carreira, incluindo merendeiras e motoristas. “Numa escola, a merendeira, a pessoa que faz a limpeza, todos somos educadores”, diz, destacando a necessidade de toda a comunidade estar engajada na construção do projeto político-pedagógico.
Del Pino defende ainda a necessidade de se revisar o plano de carreira do magistério municipal, valorizando financeiramente a classe, em especial professores da educação infantil, professores auxiliares e cuidadores. “Temos que rediscutir o plano de carreira, que respeite o piso salarial das professoras e que dê perspectiva de trabalho com dignidade”, diz.