Antes da pandemia, em 2019, o número total de passageiros que utilizaram o transporte coletivo de Pelotas foi de 30,4 milhões. Cinco anos depois, mesmo com o retorno da normalidade, esse número não foi mais alcançado. Em 2023, por exemplo, foram 19 milhões de usuários, o que demonstra que a demanda pelo ônibus caiu em torno de 34%. Já neste ano, até novembro foram 17,2 milhões.
O número de passageiros diminuiu de em média 2,5 milhões por mês em 2019 para 1,5 milhão em 2024. O que também demonstra que o total de movimentação deste ano deve ficar próximo a 2023. O cenário de Pelotas é semelhante ao constatado no país. Conforme a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), foi registrada queda de quase 25% na demanda pelo sistema entre 2019 e 2022.
A queda na quantidade de usuários é considerada fenômeno multifatorial, com o aumento do homeoffice e a adesão a carros por aplicativos. De acordo com a especialista em transportes terrestres e professora do Centro de Integração Mercosul da UFPel, Raquel Holz, as mudanças de hábitos acentuadas pela pandemia causaram a perda de passageiros. “O aumento da flexibilidade no trabalho reduziu a necessidade de deslocamentos diários”, cita.
Além disso, ela destaca a opção pelos carros por aplicativos e a expansão do e-commerce. “Com as entregas domiciliares em alta, muitas viagens para centros comerciais ou supermercados foram eliminadas”. A mesma visão é compartilhada pelo diretor-executivo do Consórcio de Transporte Coletivo de Pelotas (CTCP), Enoc Guimarães. Ele também destaca o fortalecimento do transporte por aplicativo e o aumento das atividades realizadas remotamente.
“Com trabalho e estudo remotos, bancos virtuais fechando as agências presenciais. E até as refeições, visto que os restaurantes e congêneres se fortaleceram nas entregas. Ou seja, um conjunto de fatores”, cita sobre algumas das mudanças.
Incentivo e mudanças
Segundo a NTU, a retomada aos números de passageiros pré-pandemia seria improvável sem mudanças significativas nas políticas públicas. Isso incluiria maior priorização do transporte coletivo, incentivos governamentais e a criação de um novo marco legal para o setor. “A ausência de investimento consistente em infraestrutura e serviços de transporte público de qualidade também é um fator que desestimula os usuários”, cita Raquel Holz.
Opção pela modalidade mais barata
Para retornar da faculdade no bairro Porto para o Centro, Roberta Teixeira divide um carro por aplicativo com as colegas. “A gente pega quando está em grupo. A gente veio em quatro, tipo, deu R$ 1,75 para cada, então era bem mais viável do que ficar esperando o ônibus”. Já no destino, ela pega o transporte coletivo para ir para casa, no bairro Bom Jesus.
Como Roberta é estudante, o ônibus fica mais em conta, pois com a carteirinha é cobrada a metade da tarifa. “Não tenho muita preferência, o que eu consigo ali na hora, que é mais viável e mais barato, eu pego”, explica. Mesmo ainda utilizando o ônibus, por semana a estudante deixa de fazer no mínimo sete viagens no transporte ao optar pelo Uber.