Pescadores enfrentam mais um início de captura escassa
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Segunda-Feira25 de Novembro de 2024

Seguro defeso

Pescadores enfrentam mais um início de captura escassa

Pelo segundo ano consecutivo, excesso de chuvas e cheia da Lagoa dos Patos impedem a entrada de peixes no estuário

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Atualizado quinta-feira,
17 de Outubro de 2024 às 11:37

Pescadores enfrentam mais um início de captura escassa
Pescadores torcem por tempo seco e entrada de água salgada em grande volume na lagoa. (Foto: Jô Folha)

O seguro defeso na Lagoa dos Patos foi encerrado no dia 30 de setembro. Com isso é iniciado o período de permissão para a pesca de corvina e tainha. No entanto, até o momento, não há disponibilidade das espécies da safra devido ao alto nível da laguna que impossibilita a salinização da água. O fenômeno provocado pelo grande volume de chuvas, além de dificultar a captura, causou pelo segundo ano seguido enchentes nas Colônias de Pescadores da região e poderá ser responsável por mais uma safra quebrada.

A grande quantidade de barcos atracados no canal da Divineia na Colônia Z-3 no meio da tarde de ontem é o símbolo da falta de disponibilidade de pescado. Sem perspectiva de boa captura, não vale a pena colocar as embarcações na água devido aos gastos com combustível e outros insumos. A escassez de corvina, espécie mais abundante nesta época, começa a preocupar os pescadores em relação à safra do camarão. O temor é por mais um ano de indisponibilidade do crustáceo.

Conforme avaliam os pescadores, com grande quantidade de água doce na lagoa, eles estimam que a corvina só apareça em meados de dezembro e a tainha em janeiro. Sem venda de peixes e com o fim do período defeso, paira a indefinição sobre as fontes de renda. “Não tem expectativa de pesca agora. Está muito difícil, vamos esperar a promessa do governo que é dar dois meses de auxílio, porque não tem condições, não tem nada, pescaria nenhuma”, relata Altemar Donini.

Enchente e safra quebrada

A falta de renda é originada do mesmo problema que causou enormes estragos na Colônia Z-3 em maio deste ano e em setembro do ano passado, excesso de chuvas e enchentes. Para minimizar os impactos causados nas embarcações, os profissionais fazem “bicos” para conseguirem reformar os danos nas estruturas. “Onde a gente está a água chegou acima da cintura. Perderam de tudo quanto é lado. As contas vão chegar, a luz vai chegar, a água, comida, tudo chega. O óleo diesel aqui para nós é R$ 7,00 o litro”, relata.

Mudança climática impacta período defeso

Pescador há 50 anos, Otavilino Ortiz aponta que as mudanças climáticas estão modificando os períodos de disponibilidade dos pescados na Lagoa dos Patos. Diante disso, nos intervalos de liberação da pesca a escassez de peixes e do crustáceo tem sido cada vez maior. “No ano passado, quando a turma foi para o camarão já não tinha mais, já tava pouquinho. Quando eles liberam em fevereiro, agora eles já estão indo embora”.

Rudimir Oliveira concorda com o colega, comentando que há alguns anos a safra do camarão se estendia até maio, atualmente está difícil chegar em abril. “Às vezes tem pescaria e a gente não pode pegar, essa proibição tem período errado. Quando pode pescar, o peixe já foi embora. Mudou tudo, o clima mudou e eles ficaram na lei antiga”.

Defeso do camarão

Com as discussões acerca dos períodos de defeso, o professor do Instituto de Oceanografia Furg, Luiz Felipe Dumont, afirma que a proibição da captura do camarão está sendo aplicada no intervalo correto. Conforme ele explica, como as larvas de camarão reproduzidas em Santa Catarina chegam à região em outubro, há a necessidade do intervalo de quatro a cinco meses para que parte delas possam se desenvolver e retornar para o estoque reprodutor.

Com o escape da pesca de parte dos crustáceos, eles se reproduziram e irão garantir a safra do ano seguinte. “A ideia é que a safra só abra quando uma parte do camarão já tenha saído. Em 90% dos casos a lei está sendo bem aplicada”, ressalta.

Para que este ano a safra seja melhor do que em 2023, quando houve uma grande quebra, os pescadores apontam que é necessário, tempo seco na região e em Porto Alegre, assim como a predominância do vento nordeste. “Ano passado não peguei nada”, diz Altemar Donini.

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