Municípios da Zona Sul têm índices educacionais abaixo da média estadual
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira20 de Setembro de 2024

Educação

Municípios da Zona Sul têm índices educacionais abaixo da média estadual

Principais dificuldades referem-se à remuneração de professores, vaga em creches e desempenho escolar

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Municípios da Zona Sul têm índices educacionais abaixo da média estadual
Municípios precisam aproximar escolas às comunidades, avalia especialista (Foto: Divulgação)

Na Zona Sul, a maioria dos municípios apresentou números abaixo da média estadual em remuneração de professores, matrículas em educação infantil e avaliação no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Os dados foram publicados pela organização não-governamental Todos Pela Educação.

Pelos dados, as maiores dificuldade dos municípios da região estão no ensino das séries iniciais, no qual o Saeb avalia a proficiência dos alunos em língua portuguesa e matemática, nas matrículas para creches e na remuneração dos professores.

Comparando-se aos índices nacionais, a região melhora nas avaliações do Ideb – seis empatados ou acima nas séries iniciais e quatro acima da média dos municípios brasileiros nas séries finais. Nesta avaliação, nove municípios não tiveram índices divulgados nos dois níveis e cinco não tiveram em um deles.

Poucas vagas em creches

Na educação infantil, o principal entrave na região refere-se às matrículas em creches: apenas Santana da Boa Vista tem índice acima da média estadual. Comparando ao Brasil, cuja média é de 37% das crianças com até três anos de idade matriculadas, Herval também está acima, com 43%.

Pelotas, onde são recorrentes os relatos de mães que não conseguiram vagas para os filhos, ano após ano, tem apenas 27% de matrículas em creches, e Rio Grande 22%. Capão do Leão aparece com 7% e Aceguá 13%. Na pré-escola, os piores índices são de Chuí, 52%, São Lourenço do Sul, 78%, e Canguçu, 81%.

Ensino fundamental

Referente ao ensino fundamental, a maior dificuldade regional está no ensino de língua portuguesa, no qual apenas Cerrito está acima da média do Estado, proficiência de 65%, entre as séries iniciais. A prova do Saeb é aplicada, nesta etapa, aos alunos do quinto ano. Pelotas tem avaliação de 55% e Rio Grande de 61%. Em Matemática, Canguçu (44%) tem o melhor índice e é o único acima da média do Estado.

O município de Pedro Osório é o que apresenta o pior índice nos quatro níveis de avaliações do Saeb, e a proficiência dos alunos de nono ano em matemática e língua portuguesa é de apenas 5%. A reportagem entrou em contato com a prefeitura do município para entender as dificuldades de ensino, mas não obteve resposta.

Escolas estão desconexas à realidade social

Na avaliação do professor da Faculdade de Educação da UFPel, Mauro Del Pino, dois pontos principais explicam as dificuldades enfrentadas pelas redes municipais de ensino da Zona Sul. A primeira delas refere-se ao baixo número de vagas na educação infantil. A segunda é o distanciamento da gestão educacional com as comunidades.

Del Pino, que é doutor em Educação pela Ufrgs e coordena o Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Educação Pública da UFPel desde 2020, argumenta que os alunos se distanciam da escola conforme os anos passam, por não ter um ambiente acolhedor e que faça sentido à realidade da comunidade em que vivem.

“Crianças sem acesso à cultura escolar, lá na educação infantil, não criam os códigos necessários para chegar ao final da educação fundamental e estarem entusiasmadas com o Ensino Médio”, diz Del Pino.

Segundo Del Pino, há problemas estruturais muito grandes nas escolas, em bibliotecas, em espaços internos e quadras esportivas, refeitórios, laboratórios de informática, dentre outros. Também pesa contra a baixa remuneração dos professores e a ausência de um plano de carreira que dê suporte à especialização, preparação de aulas e desenvolvimento de um bom trabalho.

O que dizem os municípios

A prefeitura de Pelotas manifestou-se por meio de nota da assessoria de imprensa e afirma ter um “compromisso em elevar os índices educacionais e melhorar a qualidade do ensino em Pelotas”.

Segundo a gestão, fatores climáticos e a pandemia dificultaram a avaliação do Ideb no município. “Com a retomada das aulas presenciais, o foco das instituições de ensino estava voltado para a recuperação do aprendizado e para a continuidade curricular, priorizando a reintegração dos estudantes e a adaptação às novas realidades”, diz a nota.

A prefeitura destaca, ainda, que vem se empenhando em melhorar a remuneração dos professores, com índices de aumento acima do estadual, mas admite a baixa no investimento por alunos. “Contudo, desde 2021, o município registra crescimento significativo nesses investimentos, aproximando cada vez mais os valores locais das médias estaduais.”

“A rede municipal adquiriu 385 vagas em escolas parceiras e em 339 credenciadas. Além disso, está em fase de construção uma nova escola de educação infantil, com inauguração prevista para o final do ano, que irá contemplar 188 vagas na educação infantil”, conclui a nota.

Rio Grande também respondeu por meio da assessoria de imprensa, em um texto assinado pela superintendente pedagógica da secretaria de Educação, Patrícia Ramos.
“A métrica obtida a partir da realização do Saeb ou de qualquer outra avaliação externa que seja realizada não é suficiente para caracterizar ou definir a qualidade da educação no município”, argumenta Patrícia, apontando crescimento do Ideb nas últimas décadas.

O município também aponta para a pandemia como um fator que prejudicou as avaliações em 2021 e as adequações que precisaram fazer para “que as crianças e jovens em idade escolar pudessem ter acesso à educação”.

Teoria do Capital Humano

O economista Marcelo Passos, professor da UFPel, explica que a educação pode atrair ou repelir investimentos à região. Passos citou a “teoria do capital humano”, que atribui relação entre a capacidade produtiva ao nível de escolaridade.

Esta teoria, desenvolvida nas décadas de 1950 e 1960, indica que o conjunto de habilidades e conhecimentos aprendidos na escola e no trabalho são elementos culturais que aumentam a capacidade de produção de bens e serviços, segundo Passos. “[A teoria] diz que os atributos assimilados pelo trabalhador acontecem por meio da experiência no trabalho e pela educação nos três níveis”, diz o economista.

Assim, são quatro os fatores que afetam a capacidade produtiva: recursos naturais, capital humano, capital físico e empreendedorismo. Melhorar os índices de educação pública, portanto, pode ser importante para aumentar a capacidade de atração de investimentos à Zona Sul.

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