Cartas mostram que Baronesa sentia saudade dos doces de Pelotas
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quinta-Feira19 de Setembro de 2024

Memórias

Cartas mostram que Baronesa sentia saudade dos doces de Pelotas

Na correspondência entre as duas Amélias, a viúva do Barão dos Três Cerros solicita o envio de guloseimas feitas no município

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Cartas mostram que Baronesa sentia saudade dos doces de Pelotas
Museu da Baronesa mantém em seu acervo dezenas de cartas trocadas entre mãe e filha (Foto: Michel Corvello)

Entre os itens da exposição Cadernos de Receitas: Narrativas da tradição doceira, apresentada no Museu do Doce da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), estão trechos de cartas escritas pela baronesa dos Três Serros, Amélia Hartley de Brito Antunes Maciel (1848-1919), solicitando ou agradecendo o envio dos doces pelotenses para o Rio de Janeiro, onde foi morar após a viuvez. Carioca de nascimento, Amélia viveu em Pelotas no século 19, residindo, com o marido Anníbal Antunes Maciel (1838-1887), o Barão dos Três Serros, e os filhos, no solar que hoje abriga o Museu da Baronesa, na avenida Domingos de Almeida, 1.490. 

A correspondência destacada é do período em que baronesa viúva voltou a morar no Rio de Janeiro, deixando a filha mais velha, Amélia Aníbal Hartley Maciel (1869-1966), mais conhecida como Dona Sinhá, e seu marido  Lourival Antunes Maciel (1857 – 1948), cuidando dos negócios da família. Entre os textos estão: “Mande-me também uma latinha de casadinhos, dôces de amêndoas e camapheos”, solicita à filha, em carta de 26 de maio de 1909. Em outra, de 6 de outubro de 1903, ela relata: “Já fiz a entrega a Leonel, Luis e João das compotas que lhes mandastes, o que muito agradecerão”.

A diretora do Museu do Doce, professora Nóris Leal, doutora em Memória Social e Patrimônio Cultural, diz que os relatos mostram, por exemplo, que receitas essas mulheres faziam no século 19, o que era o cotidiano delas e o que gostavam. “Podemos encontrar alguns doces que eles falam, como os bem-casados, os bolos, os biscoitos e algumas outras coisas que não existem mais. Nessa correspondência íntima entre as duas a gente pode ver como essa fama doceira de Pelotas vai se espalhando, porque a Baronesa também dava presentes com esses doces para algumas pessoas com quem ela se relacionava lá. É muito interessante essa relação da Baronesa com os doces”, comenta a pesquisadora.

 Assuntos variados

A mudança da Baronesa, no final do século 19, para o Rio de Janeiro se dá após o falecimento do Barão, sabe-se que ela ficou vivendo na casa por algum tempo, porém não se tem ideia de quanto tempo foi, comenta o conservador restaurador do Museu da Baronesa, Marcelo Madail, porém sabe-se que havia um quarto para ela, na torre da casa, onde fazia as refeições e leituras dos livros espíritas. Entre os prováveis motivos da mudança seriam a vontade de aprofundar estudos da doutrina espírita. “Ela também comenta nas cartas que prefere não atrapalhar a vida do novo casal. Então ela se retira”, acrescenta Madail.   

Nas mais de uma centena de cartas, ela fala sobre doces, comidas, as muitas encomendas que chegam de Pelotas ou que vêm para a cidade, queixa-se do pouco dinheiro, do valor dos aluguéis, da tentativa de aluguel de casa para que a família pudesse passar temporadas com ela no Rio de Janeiro, porque ela morava em um hotel. Nas últimas cartas, a família cogita comprar uma casa. 

Visitação

As cartas que tiveram o conteúdo cedido para o Museu do Doce pertencem ao acervo do Museu da Baronesa. A exposição pode ser visitada até 30 de agosto, de terça a sexta-feira, das 13h às 18h, com entrada franca.

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