Neste mês, o pelotense Wilson Barboza de Oliveira, de 82 anos, recebeu o título de conselheiro benemérito do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), um cargo vitalício dado como um reconhecimento de contribuições relevantes em prol do tradicionalismo no Rio Grande do Sul. Além disso, o membro do conselho também recebeu como honraria a Medalha Cristóvão Pereira de Abreu, como uma forma de valorização por ter contribuído para a preservação e promoção da história e do legado do tropeirismo no Estado. A finalidade da condecoração é simbólica, mas carrega um profundo significado cultural.
Qual o significado da Medalha Cristóvão Pereira de Abreu?
Dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), existe um departamento de tropeadas que resgata a história do tropeirismo no Rio Grande do Sul. O MTG está promovendo uma busca em cada região do Estado – que totalizam mais de 30 regiões. O objetivo é identificar tropeiros ou descendentes de tropeiros dessa região que tenham vivido a experiência do tropeirismo. Por exemplo, aqueles cujo pai ou avô exerciam a atividade, em uma época em que ela era muito forte. Como parte desse trabalho, o MTG criou a Medalha Cristóvão Pereira de Abreu, condecoração que recebi.
Quem foi ele?
Cristóvão Pereira de Abreu foi o pioneiro do tropeirismo no Brasil, e chegou a conduzir três mil cabeças de gado com o auxílio de 130 tropeiros. Como eu integrei várias tropas, ganhei a medalha. E é uma homenagem muito bonita, porque este homem tem uma história rica. Receber uma medalha dessas alisa a alma, para quem é do campo, do cavalo. Eu não sonhava em recebê-la.
Como funciona o título de Conselheiro Benemérito do MTG?
Somos 35 conselheiros beneméritos no Estado, e o número só aumenta ou se altera quando, infelizmente, algum conselheiro benemérito falece e parte para outro plano. Nesses casos, o MTG escolhe um novo gaúcho tradicionalista para substituir aquele que deixou o cargo. Aqui em Pelotas, tínhamos dois conselheiros beneméritos na região. Um deles era o coronel Alberto Rosa, um homem muito famoso por aqui. Ele foi militar, tradicionalista e escritor. Faleceu recentemente, quase completando cem anos. Além dele, havia outro conselheiro benemérito que ainda está vivo, mas encontra-se em estado de saúde muito delicado. Com isso, durante uma convenção meu nome foi escolhido para ocupar uma das vagas. Apesar de ser indicado para a região, o título de benemérito não está restrito a uma localidade específica, mas sim ao preenchimento das vagas disponíveis no quadro dos 35 conselheiros.
Como você descreve o sentimento de ser reconhecido dessa forma?
Minha origem é de um peão de fazenda. Meu avô foi capataz da Fazenda Invernada, que fica próxima à Ponte do Retiro, e depois a fazenda passou para o meu pai. Eu cresci nesse ambiente rural, percorrendo o campo, fazendo marcação, cuidando da parte campeira e conduzindo o gado para o Anglo. Essa homenagem que me prestaram mexeu profundamente com o meu sentimento. Quando trabalhei no campo, realizando essas tropeadas, eu jamais imaginei que um dia receberia uma homenagem tão honrosa. Isso me deixou extremamente emocionado. Só chega ao cargo de conselheiro benemérito, quem foi conselheiro, quem prestou serviço, quem tem conhecimento desse movimento e quem foi campeiro. E na parte campeira eu tive mais sorte.