Quem passa pela feira do Parque Dom Antônio Zattera durante as manhãs de sábado presencia, exceto em dias de chuva, uma dupla que dá mais vida ao ambiente de vai e vem em frente às bancas. Os pelotenses Anderson Garcia, 37 anos, e Júlio César Silveira, 60, tocam os mais diversos sucessos da música nacional, como Brasileirinho, choro composto em 1947 por Waldir Azevedo.
Anderson fica no pandeiro, e Júlio César no cavaquinho. Eles também se apresentam em outros espaços públicos da cidade, mas lamentam a pouca atenção de boa parcela das pessoas que transitam. Consequentemente, consideram baixa a contribuição financeira deixada no tradicional recipiente usado para depósito de moedas e cédulas.
Onde vocês tocam e com que frequência?
(Júlio César) Aqui [na feira de sábado, pela rua Doutor Amarante]; do lado do Café Aquários e na feira, às quintas-feiras, do lado da Cohabpel, na Barão de Azevedo Machado. Nós chegamos aqui por volta de 8h45min, 9h, 9h15min. Começa o movimento, a gente já está aqui.
Como definem o repertório de cada dia?
(Anderson) A gente varia muito o repertório e, conforme a gente vai se acertando na música, a gente continua tocando.
De que forma nasceu a parceria?
(Júlio César) Eu convidei ele. Comprei um pandeiro, fiz uma aposta nele, e estamos juntos até hoje. O pandeiro é mais um atrativo. (Anderson) A gente queria botar mais gente para cantar ou fazer alguma coisa diferente, mas não temos condições no momento.
Como tem sido o engajamento das pessoas com a arte de vocês?
(Júlio César) A maior parte passa por nós e nem dá bola. Não sei se eu vou ganhar o que gastei no ônibus para vir aqui. É muito pouco reconhecimento. Pretendo implantar o pix agora, futuramente. Vamos ver. Abrir uma conta e ficar para nós dois. As pessoas passam e nem olham para a cara da gente, é preconceito. Se nós estamos lá em Copacabana, Deus me livre. O carioca é povo aberto, por isso eu gostaria de ir embora para lá. A gente não tem apoio nenhum, o apoio que a gente recebe é do povo que vem. O cara se sente desestimulado.
Falta valorização?
(Anderson) Artista de rua não é valorizado em Pelotas. A gente não tem visto muito pessoal [outros artistas de rua] por aqui. (Júlio César) Nós não ficamos pedindo. A gente não pede. Se a quarta parte das pessoas que passa aqui pusesse 25 centavos… Tu não compra um cigarro com 25 centavos, e olha que eu não fumo. A gente é educado, trata todo mundo com educação. O que machuca a gente é o descaso. A pessoa passa, olha, como se fosse a coisa mais comum do mundo.