Margem apertada, resultado maiúsculo

Opinião

Douglas Dutra

Douglas Dutra

Jornalista

Repórter e colunista de política do A Hora do Sul

Margem apertada, resultado maiúsculo

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Atualizado segunda-feira,
28 de Outubro de 2024 às 11:43

Mesmo que Fernando Marroni (PT) tenha sido eleito prefeito de Pelotas com uma margem estreita de vantagem sobre Marciano Perondi (PL), a vitória do petista não foi pequena. Marroni conseguiu superar a hegemonia tucana no primeiro turno e, no domingo (27), conteve a onda bolsonarista em Pelotas.

Agora, Marroni soma-se aos outros petistas eleitos prefeitos na metade Sul do Estado. Além dele, elegeram-se no primeiro turno Zelmute Marten, em São Lourenço do Sul, Darlene Pereira, em Rio Grande, e Luiz Fernando Mainardi, em Bagé. Essa frente de prefeitos petistas na região tem a oportunidade de liderar um processo de integração regional diante de objetivos comuns.

Como prefeito de Pelotas, Marroni tem a missão de liderar a Zona Sul em busca de um desenvolvimento coletivo. Isso parte de assumir a iniciativa da atual prefeita, Paula Mascarenhas (PSDB), como presidente da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul): a Agência de Desenvolvimento Regional.

Com a força da Azonasul e o potencial da nova agência, a região tem a oportunidade de entrar numa nova fase de crescimento integrado, envolvendo os governos e os setores privados. É preciso acreditar na força da região. Que os novos prefeitos aproveitem a chance.

Balanço do PT

Com a eleição de Fernando Marroni, o PT garantiu a sua maior vitória no Rio Grande do Sul nestas eleições. Pelotas é a quinta maior cidade brasileira conquistada pelo PT, atrás apenas de Fortaleza (CE), Contagem (MG), Juiz de Fora (MG) e Mauá (SP).

O partido do presidente da república teve dificuldades para eleger prefeitos em 2024. Com 252 prefeitos eleitos no país, ficou em nono no número de prefeituras conquistadas, atrás de partidos da direita e do centrão, como PSD, MDB, PP, União e PL.

A vitória do PSOL

O PSOL, que em eleições anteriores disputou separado do PT, garantiu uma importante vitória neste domingo com a vice de Marroni, Daniela Brizolara. Cantora e professora de música de crianças com deficiência, Dani é também a primeira mulher negra a ser vice-prefeita de Pelotas. Leva consigo à prefeitura a representatividade racial e de gênero, mas também de educadora de crianças com deficiência e de artista, numa cidade cultural como é Pelotas. Ao lado da vereadora mais votada, Fernanda Miranda, Daniela eleva o PSOL a um nível de protagonismo inédito em Pelotas.

O recado das urnas

Mesmo com a legítima e importante vitória, Fernando Marroni precisa levar em conta o importante recado das urnas neste domingo. Com uma diferença de 1.263 votos sobre Perondi, além de 74,4 mil votos nulos, em branco e abstenções, Marroni torna-se prefeito sem ser o favorito da maioria da população. Agora, é necessário governar para todos, superar as diferenças na população e quebrar a resistência que terá diante de uma rejeição grande já no início da gestão.

Polarização não explica cenário de Pelotas

Embora o segundo turno tenha repetido a disputa PT x PL do nível nacional, a polarização não é suficiente para explicar o que aconteceu na eleição de Pelotas. O resultado do primeiro turno demonstrou uma rejeição ao grupo que estava no poder há 20 anos, representado nos últimos três mandatos pelo PSDB.

Que tenham avançado PT e PL para o segundo turno é uma coincidência, que, de fato, reflete a polarização nacional, mas, em especial, reforça a rejeição ao atual modelo. Marroni partiu de um eleitorado cativo de esquerda e conseguiu ampliar sobre essa rejeição. Já Perondi, como o novato da eleição, conseguiu capitalizar além da rejeição aos tucanos a onda bolsonarista pela qual o Brasil vem passando na última década.

Os desafios de Marroni

O prefeito eleito já conhece os problemas que enfrentará quando assumir a prefeitura. Zeladoria, saúde, educação, desenvolvimento… Tudo isso já apareceu nos debates e na campanha. O grande desafio de Marroni como prefeito estará, no entanto, na câmara de vereadores.

Com uma minoria no Legislativo, o prefeito eleito precisará desde já abrir o diálogo com os vereadores eleitos para garantir condições de governabilidade. Se não conseguir aproximação com a câmara, terá dificuldades para aprovar projetos e, inclusive, estará nas mãos dos vereadores que terão a carta da cassação na manga.

De volta ao governo depois de 20 anos, Marroni terá que usar a experiência adquirida como deputado federal e estadual para dialogar com os diferentes e conseguir colocar em prática seus projetos. A diferença de 20 anos atrás é que, hoje, os vereadores têm um poder enorme, inclusive sobre o orçamento, com as emendas impositivas.

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