Realizada pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas (Lepaarq-UFPel), inaugura nesta quinta-feira (3) a exposição A terra fala: Histórias e narrativas indígenas para um mundo em crise, no Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter. Na abertura ocorre, às 14h, a mesa-redonda Arqueologia e histórias indígenas de longa duração no Rio Grande do Sul, com participação dos professores e pesquisadores Rafael Corteletti, Gustavo Wagner, Marcos Santos e Rafael Milheira. A atividade será no auditório do Museu, praça Pedro Osório, 1.
A mesa-redonda tem o propósito de incentivar a reflexão sobre a conexão entre as práticas indígenas ancestrais com o bioma Pampa. A programação destaca como essas práticas moldaram e preservaram a paisagem ao longo de milênios.
Diferentes aspectos
A terra fala foi dividida em módulos, um que aborda aspectos da história das comunidades indígenas no Rio Grande do Sul e, mais especificamente na Zona Sul do Estado, através de dados antropológicos e de descobertas arqueológicas. No outro os organizadores propõem uma discussão sobre os ideiais indígenas e a convivência pacífica com a natureza e a atuação do colonizador no meio ambiente.
O objetivo da exposição é levar conhecimento sobre a história indígena que é uma lacuna na formação escolar, diz o professor coordenador da exposição Rafael Milheira. “É uma história muito presente e muito mais antiga que as populações europeias e africanas que chegaram aqui, após o século 16 e refletir um pouco sobre o que a gente está fazendo com o planeta, sobre as mudanças climáticas entre outros temas”, explica o professor.
Humanos paleoindígenas
Com a colaboração do estúdio Suldesign da UFPel, a mostra leva ao visitante a linha do tempo que apresenta dados históricos, como a ocupação dos primeiros humanos paleoindígenas na América, por volta de 12, 7 mil anos AP (Antes do Presente). Estas populações ocupam o Rio Grande do Sul a partir do rio Uruguai e se estabilizam, primeiro, no Oeste do Estado. “Estas primeiras populações que chegam são chamadas de povos caçadores/coletores. Entre 11,5 e 8,5 mil anos a gente tem uma estabilização nos territórios. Essas populações que eram um pouco menores começam a se adensar e ficar numericamente mais expressivas”, explica o aluno do curso de Arqueologia, o indígena Jeferson Foster, descendente do povo Charrua.
Os ancestrais dos povos Charrua e Minuanos, identificados como os construtores de cerritos no bioma Pampa, ocorreu há cerca de 5 mil anos. “Eles ocuparam toda a região do Pampa até a região de Missões na Argentina e parte da Patagônia e todo o território Uruguaio”, explica o acadêmico.
Neste período se tem várias populações que viviam de forma semelhante, dificultando aos pesquisadores o entendimento de quem era quem. A expansão territorial dessas populações chegou à região da Lagoa do Patos, há 3 mil anos. Eles deixam de legado a adoção de novas plantas domesticadas como feijão e abóbora e novas tecnologias como a utilização da cerâmica.
Entre os artefatos expostos estão instrumentos feitos de pedra, para caça e/ou guerra. “Temos alguns artefatos que são raspadores, pontas de projétil, talvez pontas de flechas”, comenta Foster. Muitas dessas peças eram usadas para raspar couro, tratar madeira e afiar.
A exposição tem ainda bolas de boleadeiras em pedra, que começaram a ser construídas há muito tempo e permanecem na cultura gaúcha até hoje. “Elas são mais associadas aos povos do Pampa, que seriam os charruas e gnoa-minuanos aqui em Pelotas, mas muitas outras populações utilizaram, inclusive os próprios Guaranis que chegam bem mais tarde”, diz o aluno.
Agende-se
O quê: exposição A terra fala: Histórias e narrativas indígenas para um mundo em crise
Onde: Museu Carlos Ritter, Casa 1, da praça Coronel Pedro Osório
Visitação: de segunda a sábado, das 13h às 18h30min
Haverá visitação guiada
Entrada franca