Basta uma chuva com mais intensidade para que a rua Vacaria, no balneário Santo Antônio, se torne uma cachoeira com a água que desce dos Altos do Laranjal. A constatação é dos moradores dessa via e da São Gabriel, Tapes, Herval do Sul, Mostardas e São José do Norte.
Todas padecem com os alagamentos e verdadeiras crateras formadas com a erosão do material, na maioria das vezes saibro. A solução, para eles, é a manutenção dos bueiros, serviço não realizado há tempos. O Sanep garante que o projeto de proteção à cheia na praia contempla o sistema de drenagem da bacia, o que inclui o Amarílis.
No meio de uma tarde produtiva, o proprietário de mecânica de carros Tales Tavares Oliveira, 34, estava fechando o estabelecimento pois as condições da via que dá acesso ao seu negócio impedem a passagem de veículos. Ele conta que a situação é horrível até mesmo quando não chove.
“A rua fica intransitável, pois a água desce em dias normais e passa por cima das ruas. Isso acontece porque falta manutenção das valetas”. Na São Gabriel com Herval, duas moradoras, que preferem não se identificar, empilhavam tijolos na tarde de ontem para servir de caminho até a avenida Rio Grande do Sul, único lugar de acesso ao balneário.
O morador da rua Guaíba, Júlio Contreiras, 58, conta que a situação se agravou bastante após o novo empreendimento. Para entender o problema, até porque foram feitas obras de drenagem com uma rede de escoamento pela rua Mostardas, ele tentou descobrir a origem da água e chegou até um dreno de um campo ao lado da praça do residencial. A água escorre por cima do asfalto na rua Seis e deságua na rua Tapes, tanto pela boca de lobo quanto pelo pouco de vegetação que restou no local. “Não tem escoamento, está entupido. Tudo abandonado”, lamenta. Somado ao volume de água que vem da Colina Verde, a situação só se agrava.
A família da jornalista e doutora em linguística aplicada Letícia Schinestsck, 36, mora há quase dez anos na rua Santo Ângelo com São José do Norte. Para eles, a solução é a limpeza de todos os canos do bairro, além de estudar uma maneira da água do Altos do Laranjal descer direto para a Lagoa do Patos sem passar por dentro do bairro. “Eles [prefeitura] tinham que parar de colocar aterro, porque corre todo para dentro dos canos. Quando chove, não se sai de casa sem ter um carro simples. A minha rua é literalmente ‘o encontro das águas’”, afirma.
Ela compara ainda as fotos tiradas do local em 2015 com as de agora, sendo que há diferença no nível da rua pela quantidade de aterro. “A rua é alta e a casa fica em um buraco. Por isso a solução seria fazer uma limpeza real nos bueiros, desentupir de uma vez só”, conta. Letícia enfatiza que a situação não é por causa da enchente, pois o contratempo perdura há anos. Mas são as constantes chuvas que o Sanep aponta como problema para o Laranjal.
O que diz a autarquia
No projeto de drenagem para o Laranjal, com recursos já aprovados e anunciados pelo governo do Estado, toda a bacia é contemplada, inclusive com rede de drenagem na saída do condomínio Amarilis. O projeto integra o Plano Rio Grande de reconstrução, adaptação e resiliência climática. A requalificação do sistema de macrodrenagem está orçada em R$ 16 milhões, enquanto a proteção contra cheias no Laranjal é estimada em R$ 10 milhões.
“É importante evidenciar que eventos inéditos integram um novo momento climático, sendo que na última semana, em três dias, choveu praticamente a média de três meses somados em Pelotas”, diz a diretora-presidente, Claudelaine Rodrigues Coelho. Ainda conforme a autarquia, somente neste ano o acumulado é de mais de 1,7 mil milímetros no município, um volume significativo que trouxe muitos desafios. “Sendo assim, é prioridade a execução desse projeto – cadastrado no ano passado junto ao governo federal e sem retorno na ocasião — para assegurar a eficiência do sistema pluvial do Laranjal”.