A pelotense, Juliana Cavalheiro Rodrighiero, 30 anos, é a única brasileira que integra a equipe de restauração de pinturas decorativas da Catedral Notre-Dame de Paris. Doutora em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPel, ela trabalha há dois anos como restauradora em um dos mais renomados ateliers da França.
Como tu foi recrutada para trabalhar na restauração da Catedral Notre-Dame?
Desde 2022, eu trabalho como restauradora de pintura decorativa e mural no Atelier Mériguet-Carrère, que é um dos ateliês de restauração de maior prestígio na França. Tenho atuado na restauração de diversos monumentos históricos. Além da Catedral Notre Dame de Paris, posso citar a restauração da Sala de Festas da Prefeitura do 13Arrodissement em Paris, do Hotel Particular de Günzburg (Paris), do Cinema La Pagode (Paris) e do Hotel de Broglie-Haussonville (Assembleia Nacional de Paris). Na minha participação na restauração da Catedral Notre-Dame de Paris trabalhei especialmente na restauração da Capela Porte-Rouge e da Capela Saint-Germain e na finalização da restauração dos móveis da Sacristia que acondicionam os tesouros da Notre-Dame.
Há quanto tempo tu trabalha no restauro?
Formada em Conservação-Restauração de Bens Culturais pela Universidade Federal de Pelotas em 2017, tenho atuado na área da restauração desde então. Ainda em 2019 ingressei no doutorado e em 2022 fui contemplada com uma bolsa de Doutorado Sanduíche na França. Em 2023 defendi o meu doutorado em cotutela em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPel/Brasil) e em Antropologia (UBFC/França). Desde o início da minha estadia na França tive algumas experiências na área da restauração como a participação em canteiros de voluntários e o acompanhamento de restaurações junto a restauradores independentes.
Como é o teu trabalho de restauro?
É um trabalho bastante dinâmico e de muita responsabilidade, pois te permite transitar por diversos monumentos históricos e possibilita o acesso a obras de arte e a edificações sob uma perspectiva jamais vista. É um trabalho que exige conhecimento histórico, técnico, artístico, científico, químico e metodológico. Hoje posso dizer que no meu trabalho existem dois principais segmentos: os estudos estratigráficos e a restauração propriamente dita. Os estudos estratigráficos, somos responsáveis pela identificação e compreensão de diferentes decorações e pinturas decorativas no interior e exterior dos Monumentos Históricos. É um trabalho extremamente minucioso e criterioso. No que se refere à restauração, consiste basicamente na realização de testes e ensaios com diferentes produtos e técnicas a fim de encontrar o método mais eficiente para a realização da restauração.
Como é pra ti ser a única brasileira a restaurar pinturas decorativas em um monumento tão importante?
É uma sensação indescritível, pois se trata de um monumento classificado como Patrimônio Mundial da Humanidade. Em 2024, foi feita uma exposição em frente à Catedral intitulada “Visages du Chantier”, quer dizer, Rostos do canteiro, nos quais havia fotografias dos principais profissionais que atuaram na restauração da catedral e eu estava presente na foto do grupo dos Restauradores de Pintura. Portanto, ter a oportunidade de restaurar este monumento representa um grande privilégio em perpetuar meu nome na história da restauração do século e sobretudo, um grande aprendizado em nível profissional.
Quais fatores tu considera essencial para chegar tão longe na carreira?
A minha situação profissional é o reflexo e o resultado de anos de estudos, de dedicação, de trabalho árduo e pesquisas realizadas ao longo da minha trajetória acadêmica e profissional. Se hoje tenho trabalhado como restauradora de Monumentos Históricos na França, é porque sempre estudei, tive persistência e acima de tudo o apoio da minha família, meus pais Antonio Marcos e Gabriela e meu irmão Antonio Gabriel, que sempre me motivaram e me deram o apoio necessário para os meus estudos.