Em meio a denúncias sobre a retirada de trilhos pela Rumo Logística em municípios do Rio Grande do Sul para a transferência a outros estados às vésperas do fim da concessão, o ministro dos Transportes, Renan Filho, garantiu que o contrato com a operadora não será prorrogado. Mesmo assim, líderes empresariais asseguram que a mobilização seguirá até a efetiva substituição da empresa.
A declaração do ministro foi dada ontem em entrevista, poucas horas antes da reunião-almoço Tá na Mesa, da Federasul, com o tema: “Desafios do Superporto mediante o caos ferroviário gaúcho”. Entre as principais reclamações estavam a diminuição substancial do volume de cargas transportadas pelas linhas até o Porto de Rio Grande, a precariedade das ferrovias e, consequentemente, a baixa velocidade dos trens.
Os números da precarização
Conforme estudo sobre a movimentação nas ferrovias, contratado pelo governo do RS, desde 2006 houve a redução de quase 50% no total das cargas ferroviárias, em contrapartida ao aumento de 70% na produção de grãos no período. Principal grupo de cargas movimentado no sistema ferroviário gaúcho, os granéis sólidos tiveram queda de 24% para 12% em direção ao Porto de Rio Grande entre 2010 e 2023.
O encerramento do transporte de contêineres pela Rumo, em 2016, também foi citado como outro atraso no uso do modal no Estado. Em 2018, 18.113 TEUs foram carregados pelas ferrovias. Cerca de 6% das unidades destinadas à exportação e à cabotagem passavam pelos trilhos.

Retirada de trilhos no Estado foi alvo de críticas (Foto: Divulgação)
O retrocesso na diversificação de cargas e do transporte, segundo relato na reunião do presidente do Sindicato dos Ferroviários do Rio Grande do Sul (Sindifergs), é um processo iniciado no início dos anos 2000, com a transferência de vagões e máquinas de qualidade para o Paraná. “Nós, gaúchos, falhamos: um contrato de concessão mal feito e o prejuízo que esse modal tão importante teve, com sua capacidade de transportar volume e diversidade de produtos — e hoje só transporta grãos”, diz João Calegari, presidente da entidade.
A mobilização
Conforme Renan Filho, o Ministério dos Transportes irá concluir, em janeiro, o novo projeto de concessão, que terá a definição sobre o formato de licitação das malhas, com a possibilidade de ser realizada separadamente ou em conjunto. Do outro lado, o vice-presidente de Infraestrutura da Federasul, Antonio Carlos Bacchieri, aponta a falta de detalhes sobre os investimentos, principalmente para a reativação de linhas e a criação do trecho chamado Ferrovia Norte-Sul, que cruzaria o Rio Grande do Sul, ligando Chapecó (SC) ao Porto de Rio Grande.
“Eu não ouvi nada dele dizendo que, ‘não, o governo vai implementar a Norte-Sul no Rio Grande do Sul’. É isso que nós queremos. E, se não houver mobilização, passa despercebido e, daqui a pouco, eles fazem um remendo qualquer aí.” Segundo Bacchieri, as lideranças empresariais continuarão pressionando o governo federal, especialmente diante do período eleitoral e do peso econômico da Rumo — fatores que poderiam influenciar as decisões.
A malha ferroviária do Rio Grande do Sul foi concedida à América Latina Logística (ALL), atual Rumo, em 1997. O contrato de concessão termina em fevereiro de 2027.
Dados apontados pelo estudo contratado pelo Estado
- Trecho de concessão — 1997: 3.823 km
- Trecho operacional antes da enchente: 1.680 km
- Trecho operacional após a enchente: 921 km
- Redução de quase 50% no total das cargas ferroviárias desde 2006.
- A baixa velocidade das ferrovias, que hoje operam a 12 km/h, e a redução de quase 50% na movimentação de cargas nos últimos 18 anos.
Falta de investimentos
- Décadas de concessão sem modernização dos ramais
- Trilhos sem manutenção e antigos
- Locomotivas ultrapassadas
Baixa atratividade do modal
- Opção ferroviária pouco atrativa devido à lentidão e à ineficiência
- Poucas linhas, com oferta reduzida de viagens e prazos de entrega indefinidos
