As articulações na Câmara de Vereadores de Pelotas avançaram nos últimos dias em torno de um nome: Michel Promove (PP). Embora a nova Mesa Diretora só seja definida em dezembro, na reta final do ano legislativo, Michel desponta como favorito para a presidência da Câmara em 2026, com pelo menos 15 dos 21 votos, número que representa mais de três quartos da Casa.
O movimento ganhou força após o atual presidente Carlos Júnior (PSD) confirmar que não pretende disputar a recondução. Ele deve encerrar o ciclo com uma gestão marcada por equilíbrio, especialmente no período de transição entre o governo Paula Mascarenhas (PSDB) e o início do mandato do prefeito Fernando Marroni (PT), em janeiro.
Naquele momento, a Câmara viveu um processo de pacificação, com uma composição de centro: Paulo Coutinho (Republicanos), César Brisolara (PSB), Antônio Peixoto (PSD) e o próprio Carlos Júnior formaram uma mesa diretora que ajudou a viabilizar os primeiros projetos do novo governo, como a criação de secretarias e cargos estruturantes.
Mas o que se desenha agora é o oposto da conciliação. O cenário aponta para um Legislativo que pode atuar como freio político a um governo ainda em fase de consolidação. Michel Promove tem perfil mais combativo. Ao longo de 2025, manteve postura marcadamente de oposição ao Executivo de Marroni, com discursos em um tom político direto. Sua eventual chegada à presidência representaria uma guinada na relação entre os poderes, com uma Câmara mais resistente às pautas do governo.
Nos bastidores, havia expectativa de que Marcola (UB) assumisse a Secretaria de Habitação, o que consolidava uma maioria de base governista entre PT, PSOL, PSD e União Brasil. A nomeação, porém, não se concretizou até agora. Apesar da nota oficial da Prefeitura e de entrevistas já concedidas, Marcola permanece no Legislativo. Ainda assim, projetos importantes do Executivo avançaram ao longo do ano, como os concursos para 2,2 mil servidores efetivos e outras possibilidades de contratações temporárias.
A composição do restante da mesa diretora e das comissões será o verdadeiro termômetro dessa nova fase, especialmente se os blocos de oposição também ganharem espaço nelas. Se 2025 foi o ano da conciliação, 2026 promete ser o da disputa por protagonismo. Especialmente por se tratar de um ano de eleição geral, com vereadores mirando candidaturas a deputado e buscando visibilidade.
Doce amargo
Pelotas está prestes a colher uma das maiores safras de pêssego da última década. A florada foi generosa, o frio adequado e o rendimento nas propriedades deve superar a média dos últimos anos. A “supersafra” que se anuncia poderia ser motivo de celebração, não fosse o velho e conhecido problema: o preço. O valor pago ao produtor segue abaixo do necessário para cobrir custos. Enquanto o campo entrega mais fruta e de melhor qualidade, a indústria não consegue oferecer reajuste compatível. Quanto mais se produz, menor tende a ser o retorno, especialmente em mercados sem regulação e com forte presença de importados. No centro dessa engrenagem está Paulo Crochemore, presidente do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas, que vem costurando uma rede de ações políticas para tentar aliviar a pressão sobre o setor. Em conversa com prefeito Fernando Marroni, ontem, o setor compartilhou as demandas que estão no plano.
Uma delas é a tentativa de garantir, junto ao governo estadual, uma forma de redução de ICMS para os produtos da cadeia do pêssego. Outra frente mira o governo federal, com um pedido formal para que o pêssego argentino deixe de ter licença automática de importação. Essa mudança obrigaria que cada lote estrangeiro fosse analisado antes de entrar no país, criando um intervalo de até 90 dias em que a fruta local teria prioridade no abastecimento das fábricas. Há ainda um terceiro movimento, mais estratégico: a reativação das câmaras frigoríficas desativadas na saída de Pelotas, estruturas criadas justamente para resfriar a fruta e evitar perdas durante a safra. A ideia é que o prédio, hoje ocioso, volte a servir à coletividade da cadeia produtiva. O pleito foi encaminhado ao governo estadual e deve ser avaliado nas próximas semanas.