Alegria e Júbilo de Gibran em carta a Mereb

Opinião

Luís Rubira

Luís Rubira

Professor de Filosofia

Alegria e Júbilo de Gibran em carta a Mereb

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Ao publicar suas três primeiras obras nos Estados Unidos entre os anos de 1908 e 1914, o nome Khalil Gibran despontou como uma nova aurora no céu da literatura que reunia a sabedoria espiritual do oriente e a do ocidente. Escritos e publicados em árabe, os livros Os espíritos insurgentes (1908), As asas mutiladas (1912) e Lágrimas e Sorrisos (1914) logo atingiram muitos leitores e ganharam tradução em outros idiomas. Dentre estes destaca-se a tradução em língua portuguesa de Lágrimas e sorrisos (Pelotas, 1920), realizada por José Mereb.

Acerca das leituras que influenciaram o jovem Gibran, e que de certo modo estão presentes nessas suas primeiras obras, é importante recorrer a um dos estudiosos do autor o tradutor e crítico palestino Suheil Bushrui. Em seu artigo “An Introduction to Kahlil Gibran” (disponível no site do Kahlil Gibran Collective), ele destaca que ao estudar em Paris entre 1908 e 1910, Gibran ficou profundamente marcado pela obra Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche. E isto porque o filósofo “adotou a figura imponente de um profeta do Oriente como seu porta-voz”, algo que em Gibran sintonizava com “suas necessidades mais profundas de autenticidade artística”. Foi também neste período que ele “conheceu Rodin, que o apresentou à arte e à poesia de William Blake”, influência que “pairaria sobre praticamente todos os seus escritos”. Tudo isto somava-se às suas influências do oriente, em especial as obras de Francis Marrache e do sufismo – a corrente mística do islamismo.

Ao receber em maio de 1920, em Nova Iorque, a tradução de Lágrimas e Sorrisos realizada por Mereb, Gibran escreve-lhe imediatamente para falar de sua imensa alegria, confessando-lhe também que havia “escrito a maior parte de Lágrimas e Sorrisos antes de completar as vinte primaveras”. Nesta carta, ele também revela que era um conforto para sua alma a “notícia da tradução de As Asas Mutiladas, por ser mais atraente ao meu coração do que outros escritos meus, porque ele representa o perfil doloroso da mulher oriental, que se vê colocada entre o amor divino e o dever humano” (Carta para Mereb, 16/05/1920). Dois meses após, eis o modo como Gibran registra sua reação ao ter diante de si a tradução de As Asas Mutiladas:

“Estimado irmão Mereb,

Saudo-te e saudo, mil vezes, a tua alma.

Recebi a tua carta, conjuntamente com os 10 exemplares das “Azas Mutiladas”, em português. Alegrei-me e me rejubilei, porque, tanto no texto da tua carta, como também na formosa tradução, há revelação evidente da grandeza da tua alma, do teu impulso, do ressalto da tua energia e da tua dedicação em prol da cultura oriental.

Sou-te muito devedor, e permanecerei a dever-te eternamente, porque, os nobres afazeres se elevam por sua natureza, a quaisquer compensações, além da rotina dos agradecimentos! Sim, se eu tentar recompensar-te, culpe-me contra as tuas sinceras intenções, e se procurasse agradecer-te, com palavras, seria como quem oferecesse um punhado de areia, em troca de um punhado de pérolas… Porém, o reconhecimento do favor é uma emoção forte e profunda, que permanecerá profunda e forte na minha alma, enquanto eu viver.

Sei bem que tu não praticastes essa elaboração moral com o intuito de usufruir recompensas materiais; e sim foi isso uma explanação patente do teu heroico e acendrado patriotismo.

Escrevi ontem ao meu primo Nacle, pedindo-lhe para te mandar alguns exemplares do livro “O Louco”, que foi traduzido do inglês para o português, e te peço que me dê a tua opinião particular sobre essa tradução e da impressão que ela tenha causado aos literatos brasileiros, teus conhecidos.

Aceite pois a minha elevada estima e alta consideração e que Deus te guarde, para o teu leal irmão.

Gibran Khalil Gibran – New York, Julho, 1921”.

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