Estiagem traz otimismo para pescadores de camarão
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Terça-Feira14 de Janeiro de 2025

pesca

Estiagem traz otimismo para pescadores de camarão

Pouca incidência de chuvas favorece a entrada da água do mar na Lagoa dos Patos e o ingresso de larvas do crustáceo

Por

Estiagem traz otimismo para pescadores de camarão
No Pontal da Barra, pescadores mantêm boas expectativas para safra (Foto: Jô Folha)

Se a pouca chuva na região Sul do Estado assusta os produtores rurais, os pescadores encontram no tempo firme bons motivos para acreditar em uma safra de camarão mais produtiva que a do último ano. Famílias inteiras que vivem apenas da pesca artesanal e tiveram sua principal atividade econômica prejudicada por conta da enchente de 2024 agora se dedicam à captura do crustáceo, classificado pelos trabalhadores como um dos pilares para este momento de retomada. A safra do camarão é liberada em fevereiro.

O resgate da expectativa para a temporada ocorreu depois da entrada da água salgada do mar na Lagoa dos Patos pelo canal de Rio Grande, movimento que favorece o ciclo de vida do camarão-rosa. Segundo o professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), Luiz Felipe Dumont, o crescimento das larvas do camarão ocorre dentro da laguna. Após a desova na costa de Santa Catarina, as larvas descem pelo litoral. “Entram no estuário, viram juvenis, crescem e são exploradas pela pesca. Aqueles que sobrevivem retornam para a região marinha”.

O clima desempenha um papel crucial no ciclo de vida dos crustáceos em estuários. Durante períodos de seca, a redução no volume de água doce permite que maior quantidade de águas salinas penetre nos estuários, criando um ambiente favorável para a entrada das larvas de camarão. Em contrapartida, em anos de chuvas intensas, o fluxo de água doce aumenta, criando uma barreira natural que impede a entrada de larvas nos estuários e reduz a produção.

Preparação

De acordo com o último informativo conjuntural da Emater/RS, de 5 de janeiro, houve aumento na captura de corvina e tainha na Lagoa dos Patos, mas a qualidade, o peso e o tamanho dos peixes estão limitados. Com relatos da presença do crustáceo na região, o período é de preparação para a safra. O morador do Pontal da Barra, Manuel Pereira, 58, é um dos pescadores que mantêm a manutenção da embarcação. Para ele, a depender do clima, o cenário é promissor. “Se não chover, lá para o dia 10 ou 15 de fevereiro já vai ter alguma coisa de camarão”, prevê.

Outro pescador que reside na Barra é Jorge Luche. O homem de 65 anos conta que a inundação de maio destruiu parte da sua casa, equipamentos de pesca e apetrechos de trabalho. A maior embarcação que ele costumava usar ainda não está habilitada para navegar, já que os danos causados pela cheia ainda não puderam ser consertados. Os maiores obstáculos, segundo Luche, são de ordem financeira. “Mas neste ano a coisa tem que melhorar”, torce. “Não está fácil, mas vou usar um barco menor para pescar e ir à luta”.

Cenário em Rio Grande

Após um ano de baixa, os pescadores artesanais de Rio Grande também mantêm boas expectativas para a safra do camarão de 2025. Enquanto não há grande disponibilidade do crustáceo, o público avalia alternativas para manter os frutos do mar no cardápio.
“O camarão não está na safra, então o pessoal tem buscado os peixes mais baratos, como a corvina, a tainha e o linguado”, explica Paulo Freitas, 55, pescador artesanal há mais de 30 anos. Ele e diversos outros profissionais se reúnem diariamente nas docas do Mercado Público para realizar as vendas.

Camarão

A partir de 1º de fevereiro os pescadores artesanais da região ingressam no período da safra do camarão, que se estende até 31 de maio. Para 2025 a perspectiva é animadora, conforme Costa. “Nossa expectativa é que a safra deste ano seja bem melhor que a de 2024”, diz.

No último ano, a safra chegou a ser caracterizada como “quase inexistente” pelo ex-secretário da Pesca, Bercílio Silva. Apesar das enchentes que atingiram o Estado, a água está em boas condições para o aparecimento dos crustáceos, afirma Nilton Machado, presidente da Colônia de Pescadores Z-1.

“Ao longo da primavera tivemos muita chuva, o que foi muito positivo porque tirou aquela água suja da enchente e colocou uma água nova. Agora, a água está bem salinizada e aguardamos a alta da temperatura para melhorar ainda mais as condições para o crescimento do camarão”, explica.

Apesar da safra iniciar em fevereiro, o setor espera que os camarões atinjam o tamanho ideal ao longo de março. O preço também é um ponto de atenção para os pescadores. Em 2024, o quilo médio foi comercializado por valores a partir de R$ 35 com casca e R$ 60 sem casca. Para este ano, a expectativa é de redução. Apesar disso, qualquer oscilação na produção pode impactar os valores.

Reunião

Em reunião com a Emater, realizada na última sexta-feira, a prefeitura de Rio Grande definiu a realização de um ato de lançamento da safra do camarão. Na ocasião, ficou definido que os pescadores artesanais serão recepcionados por autoridades no dia 1º de fevereiro nas docas do Mercado Público.

Acompanhe
nossas
redes sociais