Paula Mascarenhas se desfilia do PSDB e indica caminho ao PSD

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

Paula Mascarenhas se desfilia do PSDB e indica caminho ao PSD

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O que nos bastidores já era tratado como provável virou ato formal: Paula Mascarenhas, ex-prefeita de Pelotas e secretária extraordinária de Relações Institucionais do governo do Estado, anunciou sua desfiliação do PSDB. Na carta pública, ela diz que a decisão não é “com alegria” e atribui a saída a uma mudança no comando estadual: segundo Paula, a nova composição teria sido formada majoritariamente por pessoas que passaram a “combatê-la internamente” com métodos que ela rejeita. Portanto, um ambiente que, para ela, se tornou “insustentável” de permanecer.

No texto, Paula faz questão de reafirmar afinidade com os princípios históricos do PSDB. Ao mesmo tempo, descreve a dinâmica recente como “guerra de guerrilha” e “desgaste interno”, em contraste com a cultura partidária que diz ter ajudado a construir. O timing também ajuda a entender o enredo. Em julho, ainda como presidente estadual, Paula foi lançada por lideranças tucanas como pré-candidata ao Piratini, em um movimento que buscava dar rumo ao partido depois da saída de Eduardo Leite — que, em maio, trocou o PSDB pelo PSD e passou a liderar uma migração em bloco de quadros e prefeitos para a nova sigla.

Em paralelo, o PSDB passou a conviver com outra vitrine majoritária: a entrada do prefeito de Guaíba, Marcelo Maranata, filiado em setembro já com discurso de pré-candidatura ao governo em 2026. Agora, a própria carta de Paula veio na sequência de movimentos de consolidação da nova executiva no Estado.

Na prática, Paula sinaliza alinhamento ao campo do centro democrático e indica como caminho natural o partido do governador: o PSD. Ela própria registrou na Rádio Pelotense, sem mistério, que essa é a tendência — embora não imediata. Assim, seguirá atuando “ao lado” de Eduardo Leite, e a leitura no meio político é que a troca abre uma avenida para 2026 com foco no Legislativo: a hipótese de disputar uma vaga na Assembleia, tema que ela já deixa no horizonte. A implicação é dupla: de um lado, o PSDB gaúcho perde uma liderança com densidade regional e trajetória eleitoral; de outro, o PSD de Leite tende a reforçar um desenho de coalizão em que a sucessão estadual e a montagem de bancadas passam a conversar no mesmo tabuleiro. E, no xadrez local, é difícil imaginar que Paula Mascarenhas esteja fora do radar de 2028, quando Pelotas volta a escolher prefeito.

Justiça suspende troca na Comissão de Ética

A Justiça concedeu, em regime de plantão, uma liminar que suspende a reunião da Comissão de Ética e Decoro marcada para eleger um novo presidente e determina a recondução provisória do vereador Jurandir Silva (PSOL) ao comando do colegiado. O caso corre em mandado de segurança: Jurandir contesta a destituição e aponta como ato questionado a condução atribuída ao vice-presidente César Brizolara, Cesinha (PSB).

Na leitura inicial da juíza, o Regimento e o Código de Ética não deixam uma porta clara para “derrubar” presidente por deliberação, e não caberia criar sanção por interpretação ampliativa. Entra também a crítica de forma: a queda teria sido formalizada sem indicar, de modo objetivo, qual dispositivo sustentaria o ato.

O pedido de queda partiu do vereador Marcelo Bagé (PL), enquanto o encaminhamento interno passou pelo vice Cesinha (PSB), que estava na linha de frente da condução. Quando uma destituição acontece e, na sequência, já existe reunião pronta para escolher substituto, costuma ter relação com controle do relógio.

É aqui que entram as datas. O impasse gira em torno do calendário de decisões da comissão em processos que envolvem Fernanda Miranda (PSOL) e Cauê Fuhro Souto (PV). O centro do problema é o encadeamento de atos: o que foi feito em qual dia, por quem estava no comando naquele momento, e como isso conversa com prazos e formalidades.

A comissão fica, por ora, do jeito que estava, e o movimento de troca perde o tempo. A autoridade apontada terá prazo para prestar informações, há manifestação do Ministério Público e o mérito será julgado depois. E o calendário da Câmara pesa: a última sessão do ano está prevista para o dia 23; depois, há apenas a posse da nova Mesa Diretora em 30 de dezembro e, na sequência, recesso em janeiro. Ou seja, esse capítulo pode atravessar a virada do ano com a comissão “travada” no modelo atual e com o debate migrando do plenário para o processo.

Contratações temporárias

O projeto de lei da prefeitura que autoriza a reposição e renovação de contratações temporárias, um “salva-ponte” de pessoal para até 90 educadores sociais e um engenheiro de segurança do trabalho, chega à reta final do ano como mais um dos casos em que a urgência se explica na ponta, mas o calendário vira disputa política. De um lado, o governo sustenta que há contratos vencendo e que, sem reposição, serviços sensíveis da assistência e da saúde podem sofrer descontinuidade. Do outro, vereadores reconhecem a necessidade, mas batem que o texto entrou com pouco prazo, comprimindo o debate e o pedido de esclarecimentos. O detalhe que dá temperatura aos bastidores é que existe cadastro reserva de concurso de 2023, mas a prefeitura precisa contratar até 28 de dezembro. O que fica em aberto é justamente o equilíbrio que a Câmara vai buscar nessa reta final: aprovar no ritmo do Executivo, impor condicionantes e ajustes, ou esticar o debate mesmo sob risco de apertar a execução lá na ponta.

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