Está aberta à visitação o 16º Bazarte do Ágape. A tradicional ação do Espaço, que mescla exposição e bazar, tem buscado estimular os consumidores a adquirir uma obra de arte por um valor acessível. Esse ano a galerista e artista plástica Daniela Meine inovou a proposta ao padronizar o tamanho das entregas e também ao esconder os nomes dos artistas. A galeria, que fica na rua Anchieta, 4.480, está aberta de segunda a sábado.
De acordo com o edital deste ano, todas as obras apresentadas são no tamanho 30X30 centímetros. A proposta é que o público se volte exclusivamente para o trabalho em si, permitindo uma apreciação livre de preconceitos ou expectativas, tendo uma experiência pessoal mais introspectiva, sem a influência do nome do artista, segundo a organizadora.
São 65 obras, apresentando diferentes técnicas de pintura, além de colagem e até bordado, criadas por 30 artistas de Pelotas, Rio Grande, Jaguarão e Porto Alegre. “Como padronizamos o tamanho e o valor, pensamos que todo mundo vai estar igual. Então, fizemos uma experiência que é o da não identificação. A ideia é que as pessoas adquiram porque gostaram e não porque é deste ou daquele artista”, explica a proprietária do espaço.
Este ano estão ausentes as obras em três dimensões. Segundo Daniela havia essa possibilidade, mas nenhum trabalho foi encaminhado. “Os escultores estão retraídos”, brinca Daniela.
Edital para padronizar
O Bazarte não tem propriamente uma curadoria, já que o edital bem específico faz parte desse trabalho e Daniela atua mais como organizadora. “A gente poderia colocar mais trabalhos, é uma exposição mais democrática, apesar do regulamento. Aceitando o regulamento pode participar, porque não tem uma seleção. Mas infelizmente eu tive de recusar alguns trabalhos, que estavam fora das dimensões ou assinados, mas tudo bem, como tudo que é novo precisa de adaptação”, fala.
A exposição vai permanecer aberta nos próximos dias em horários diferenciados, por causa dos feriados de final de ano. Nas redes sociais do Ágape o visitante pode verificar os horários de atendimento. De 1º de janeiro até o dia 12 haverá um recesso.
Do aluno ao professor
Em meio a obras de artistas com nome reconhecido nas artes da Zona Sul e de fora do Estado e até do país, aparecem trabalhos de iniciantes, uma das características do Bazarte. O anonimato das obras acabou por instigar os visitantes, na noite de abertura, na segunda-feira, a tentar adivinhar quem tinha produzido o quê.
Por ter esse perfil de bazar de arte, a exposição é dinâmica e na noite de abertura, as obras adquiridas foram levadas pelos compradores imediatamente. “A pessoa compra e já leva, aí o artista tem condições de substituir. Sempre vai ter trabalhos novos”, comenta Daniela.
Evento que acontece sempre nesta época do ano é ainda um convite para que os apreciadores da arte possam presentear no Natal. Nesta edição as obras estão sendo vendidas a R$ 300,00.
Inspiração
A artista Rami Leandro está entre as presenças com bastante experiência na área. Com um trabalho reconhecido internacionalmente, a rio-grandina quis participar do Bazarte motivada por diferentes razões: “Eu acho o Ágape um espaço importante para a cidade, porque a Daniela vive criando. Ela está sempre aberta a propostas e eu acho que espaços assim têm que ser reconhecidos pelos artistas locais. Quando o espaço ganha um edital, como foi o caso agora do Bazarte, acho que é importante a gente, como artista, sendo reconhecido ou não, participar para fomentar mais, para não deixar morrer”, comenta a artista.
Rami gostou da proposta curatorial, que leva para ao espaço expositivo uma obra sem assinatura. “Eu acho que a questão da assinatura e do nome, do sobrenome pesa muitas vezes. Então, às vezes a pessoa nem foi tocada por aquela arte, mas compra porque é do artista fulano de tal. E isso me incomoda um pouco”, fala a artista que lembra de ter conversado com clientes que queriam uma Rami Aquarelas, marca própria, sem a convicção do que queriam, servia “qualquer coisa”. “A gente pode ficar feliz, mas ao mesmo tempo vem aquela insegurança, de querer ser reconhecida mais pelo teu trabalho do que pelo nome que tu criou”, fala.
Para a artista, neste caso, a obra sem assinatura aparente, as obras estão assinadas no verso, flui mais naturalmente. “A principal função da arte é que as pessoas consigam se inspirar e fluir com uma obra, não é o nome e sobrenome e nem o valor final. Então a função da arte ali estava bem latente”, argumenta.
