A internet não é terra de ninguém. Ou é?

Editorial

A internet não é terra de ninguém. Ou é?

A internet não é terra de ninguém. Ou é?
(Foto: João Pedro Goulart)

Há poucos meses falávamos aqui do absurdo que foi o caso de uma onda de racismo envolvendo o evento Corre Preto, que virou tema de denúncia ao Ministério Público, pilhas e pilhas de notas de repúdio e lamentação. Para quem não lembra, refresquemos a memória: o evento voltado a estimular a prática de exercícios físicos entre a população negra em Pelotas foi alvo de deboches e comentários racistas após vídeo publicado pelo Grupo A Hora nas redes sociais. Pois bem. Avançamos até o último fim de semana. Parada da Diversidade. Temática de inclusão e tudo mais. Novamente, vídeos sobre o evento. E o resultado? O mesmo. Uma onda de críticas odiosas.

São muitas reflexões que cabem a partir disso. A mais óbvia e gritante delas, naturalmente, é que as pessoas se sentem confortáveis de, na internet, extravasar o ódio que carregam no coração. E pouco ou nada arcam com isso. Vamos ser honestos. Por mais que se acredite na Justiça, na responsabilização e na lei, você acha que alguém, de fato, vai pagar judicialmente por atacar pessoas sem motivo algum, com a humilhação como o único objetivo?

No fim das contas, o ambiente digital transformou-se nesse espaço bélico a partir das redes sociais. Não era seu objetivo, mas foi consequência, talvez pela própria postura humana diante de algumas situações. Poucos pararem diante de uma pessoa negra correndo e diriam na sua cara que ela está treinando para fugir da polícia. Na internet? Tem uma centena de likes e respostas com hahaha. Olhar para uma travesti e chamar de “monstrinho de história de quadrinhos” na sua cara? Claro que não. Mas na internet, tudo bem.

Há muito que se lamentar. É triste ver que o mundo é assim. A esperança fica para as próximas gerações, que talvez tenham um pouco mais de consciência, humanidade e amor pelo próximo. Até lá, a gente se ilude achando que alguém vai ser responsabilizado por isso, mas sabe que no próximo evento voltado a alguma minoria, tudo vai se repetir.

ERRAMOS

Na reportagem de capa da edição de ontem, sobre a frustração com a safra de pêssego, aparece uma caixa da empresa Oderich. Ressaltamos que não há qualquer registro de negativa de recebimento das frutas por parte da empresa e pedimos desculpas pelo equívoco no uso da imagem.

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