Sob um calor que ultrapassou os 30 °C, o Largo do Mercado Central de Pelotas foi tomado, na tarde deste domingo (14), por cores, música e discursos durante a 24ª edição da Parada da Diversidade. Considerada a segunda mais antiga do Rio Grande do Sul, a Parada reuniu milhares de pessoas ao longo do dia, encerrando a Semana da Diversidade.
Neste ano, o tema “Pelo direito de existir em um corpo que eu me reconheça” foi escolhido pela comunidade, e jogou luz nas vivências e vulnerabilidades da população trans e travesti. Segundo Maicon Moreira, da comissão organizadora e do Coletivo Movimenta, o mote dialoga com o contexto recente no país. “Entendemos que é a comunidade que enfrenta as maiores vulnerabilidades dentro de toda a nossa sigla, e quisemos chamar atenção para isso”, afirma.
Desde 2018 realizada no Mercado Central, a Parada reafirma a ocupação do espaço público no Centro Histórico da cidade. Para Marcos Potenza, também da comissão organizadora, o local facilita o acesso e amplia a participação. “O Mercado é consagrado para atos públicos e atividades culturais e nós queremos estar aqui também”, diz. A estrutura contou com palco, apresentações artísticas, espaço para pessoas com deficiência, idosos e famílias com crianças.
Para todos os públicos
A presença familiar é uma das marcas da Parada de Pelotas, característica destacada pelos organizadores. Ao longo da tarde, não raro se notou a presença de crianças, idosos e grupos de amigos acompanhando as apresentações, muitos ainda se protegendo do sol intenso com leques ou na sombra do Mercado que aumentava de tamanho conforme o sol caía no horizonte.
Entre os participantes estava o estudante de Medicina Veterinária Thiago Mendes, de 21 anos, natural de Gravataí, que participou pela primeira vez do evento. “Eu acho muito importante por trazer essa representatividade. Na minha cidade não tem Parada LGBT e é uma cidade com bastante preconceito. Isso acaba trazendo essa luta para a realidade”, relata.
Existência e resistência
A Parada também foi espaço de visibilidade para pessoas trans e negras. Noah Gabriel, homem trans masculino preto, de 23 anos, destaca a importância da ocupação dos espaços públicos. “É um evento muito importante para a visibilidade, para entender que é uma luta muito importante, não só hoje, mas todos os dias”, afirma.
Recentemente, a bandeira LGBTQIAPN+ foi hasteada na Câmara de Vereadores em alusão à Semana, apesar de uma tentativa de alguns vereadores de impedir o ato. Ao comentar este episódio, Noah ressalta: “Foi uma coisa muito triste. Espero que daqui a um tempo mude, porque a gente respeita tanta coisa, podem nos respeitar, é o mínimo”.
Semana da Diversidade
Além do evento principal, a Semana da Diversidade contou com rodas de conversa, encontros institucionais, ações culturais e a realização inédita da Rústica da Diversidade, corrida de rua com percursos de 3 km e 5 km, realizada antes da Parada, durante a manhã. As atividades reforçaram o viés político e educativo da programação.
Bandeira para o ano todo
Ao fim do dia, com o calor intenso já arrefecido, o clima seguia sendo de pertencimento e resistência. Entre bandeiras, discursos e muita festa, a 24ª Parada da Diversidade reafirmou o direito de existir, ocupar e celebrar a diversidade em Pelotas. E mais do que isso: lembrar que a bandeira deve ser levantada não apenas em um dia, mas ao longo de todo o ano.
