Pelotas confirmou a realização do Réveillon 2025/2026 na Praia do Laranjal. Uma engenharia política e administrativa rápida que colocou o evento de pé. O prefeito Fernando Marroni (PT) e o deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB) participaram juntos da apresentação e detalharam a parceria que viabiliza o Réveillon com uma emenda parlamentar de R$ 400 mil, além do envolvimento da CDL na montagem da estrutura.
Na prática, trata-se de um exemplo de diálogo institucional entre partidos que, em geral, se posicionam em campos opostos. Em Pelotas, a costura aparece com contornos bem objetivos: o município organiza, coordena e responde pela operação; o setor representado pela CDL colabora na execução e na estrutura; e o recurso que fecha a conta vem de Brasília, via emenda destinada pelo parlamentar.
Esse tipo de arranjo é comum em projetos de infraestrutura e saúde, mas chama atenção quando aplicado a um evento cultural. E aí entra a discussão inevitável sobre prioridade. Cultura pode não parecer urgente quando comparada a demandas emergenciais, e é justamente por isso que o debate precisa ser feito com clareza: o anúncio do Réveillon não substitui políticas de serviços essenciais, mas compõe um calendário de cidade, com impacto direto no verão e na orla, mobilizando economia local e abrindo espaço de visibilidade para artistas pelotenses. A própria CDL sustenta publicamente essa leitura ao associar eventos na orla à movimentação do comércio e a oportunidades para empreendedores.
No conteúdo cultural, a programação foi apresentada como desenhada para “prestigiar talentos locais”, com DJs, banda e cantores da cidade ao longo da noite. A atração principal anunciada é a dupla Kleiton & Kledir, e a virada fica com o Grupo Aruanda, além de vídeo de retrospectiva de 2025 e contagem regressiva no telão. Há ainda uma escolha que muda o perfil da celebração: não haverá fogos de artifício. A justificativa apresentada envolve respeito a questões ambientais, proteção de animais e atenção às pessoas com TEA, sinalizando uma tendência de eventos que buscam reduzir o ruído e impacto no entorno.
No quadro político, a foto de Marroni e Trzeciak no mesmo anúncio não elimina divergências, nem “redefine” alianças. Ela aponta outra coisa, mais concreta: quando a pauta é local e o objetivo é viabilizar algo de interesse público, o diálogo entre diferentes pode produzir resultado, com cada ator respondendo pelo seu papel, seu recurso e sua assinatura.
Domingo impositivo
Neste domingo, a Câmara de Vereadores de Pelotas volta a abrir as portas em caráter excepcional para uma sessão especial dedicada ao segundo turno de votação das emendas impositivas ao orçamento de 2026. A etapa final vem na sequência do “mutirão” que ocupou a quinta-feira da semana passada inteira nas comissões de Constituição e Justiça e de Orçamento e Finanças, quando os parlamentares analisaram centenas de propostas de destinação de recursos para áreas como saúde, educação, assistência social, infraestrutura e entidades do município.
Na prática, o domingo serve como a “linha de chegada” de um mecanismo que tem duas funções ao mesmo tempo: distribuir parte do orçamento com assinatura direta dos vereadores e expor, à luz do plenário, como cada fatia do dinheiro público será carimbada. A expectativa é de um rito mais objetivo, já com o texto amadurecido nas comissões, mas ainda com espaço para ajustes e destaques. É um processo cansativo e justamente por isso relevante: quanto mais visíveis forem as etapas e as escolhas, menor a margem para ruído e maior a possibilidade de cobrança pública depois, especialmente da lupa do MP.