Em menos de oito horas, dois pedestres morreram atropelados em rodovias federais da região Sul. Os acidentes ocorreram entre a noite de quinta-feira (11) e a madrugada desta sexta-feira (12), em Canguçu e Camaquã. Os casos reforçam um problema conhecido por quem vive em cidades cortadas por estradas de alto fluxo: a convivência diária entre moradores e tráfego pesado sem infraestrutura adequada de proteção.
O primeiro caso foi registrado por volta das 21h45min de quinta-feira (11), no km 117 da BR-392, em Canguçu. Um homem – que ainda não foi identificado – foi atropelado por um Fiat Siena, emplacado em Pelotas, e morreu no local. O motorista não se feriu e não houve bloqueio da pista.
Já às 4h53min de sexta-feira, a Ecovias Sul foi acionada para um novo atropelamento, desta vez no km 408 da BR-116, em Camaquã, sentido Capital. A vítima, também um pedestre e ainda sem identificação, morreu antes da chegada do socorro. O veículo responsável não foi encontrado e segue sem identificação.
Nos dois casos, a Polícia Rodoviária Federal realizou levantamento pericial para apurar as causas. O trânsito permaneceu fluindo normalmente.
Vulnerabilidade de pedestres
A professora e doutora em Transportes Terrestres da UFPel, Raquel Holz, afirma que acidentes como os registrados nas rodovias não são episódios isolados, mas reflexo de um modelo viário que coloca pedestres em situação de vulnerabilidade.
Ela explica que em cidades cortadas por rodovias, como Camaquã e Canguçu, as pessoas disputam espaço com tráfego intenso de caminhões e veículos, muitas vezes em alta velocidade. Esses trechos funcionam como vias urbanas, mas sem infraestrutura segura para quem caminha.
“A falta de faixas de pedestre elevadas, iluminação deficiente à noite e sinalização inadequada agravam os riscos de ocorrência de acidentes, especialmente em trechos urbanos onde rodovias funcionam como vias principais sem infraestrutura segura”, afirma. No centro urbano de Camaquã, por exemplo, é este o cenário: a BR-116 serve como eixo principal de deslocamento para as pessoas.
“Os pedestres precisam ser vistos, principalmente à noite”, reforça Raquel. Ela cita que soluções como passarelas, faixas elevadas e redução real de velocidade em áreas urbanas podem diminuir atropelamentos entre 30% e 50%, segundo pesquisas na área. Propostas desse tipo já aparecem em planos de mobilidade, como o PAC Mobilidade para Pelotas, e, segundo Holz, deveriam ser replicadas em cidades menores.
Escuridão e insegurança
Quem vive próximo aos trechos rodoviários reconhece o risco diariamente. Em Canguçu, Mariana Rojahn, moradora da Colina Verde, utiliza regularmente o “largo da faixa”, área próxima ao trevo onde ocorreu o atropelamento. “[Moro aqui] há mais de dez anos.
Acesso o trecho do trevo próximo ao largo diariamente para ir ao trabalho. No período da noite, […] é bastante escuro. Temos apenas a iluminação do trevo, porém não atinge todo o largo”, conta.
Segundo ela, o local reúne movimento constante, veículos parados, caminhoneiros que utilizam o espaço para descanso e até animais soltos. “Para ficar mais acessível e principalmente seguro, poderiam investir em mais iluminação para aquele local, já que possui movimento”, conclui a moradora.
