Após a passagem de um ciclone extratropical pela região Sul, produtores seguem contabilizando os estragos nas lavouras. Com perdas pontuais e localizadas, até o momento as avaliações preliminares apontam principalmente prejuízos ao solo agrícola por erosão. A má condição de estradas e pontes na zona rural também preocupa os produtores.
Lavouras próximas ao entorno de rios e arroios foram as que mais sofreram. “Os estragos ainda não foram computados nessas localidades, mas devemos ter alagamentos em áreas de arroz, soja e milho; especialmente lavouras próximas do rio Camaquã devem registrar perdas maiores”, antecipa o gerente regional da Emater/RS-Ascar de Pelotas, Ronaldo Clasen.
No Escritório da Emater Pelotas, o engenheiro agrônomo Rodrigo Prestes afirma que a equipe visita as propriedades desde terça-feira para contabilizar os estragos. “Tem algumas localidades que estão mais difíceis de acessar devido a pontes e estradas, mas neste momento estamos fazendo avaliações para quantificar o que foi afetado”, explica. A previsão de divulgação dos dados é na próxima segunda-feira.
Devido às condições das estradas na zona rural de Pelotas, a Prefeitura deve decretar situação de emergência nos próximos dias. Já foram registradas avarias em pontes — algumas estruturas foram arrastadas pelas águas, enquanto outras tiveram danos nas cabeceiras — e em estradas, o que compromete a mobilidade dos moradores e agricultores familiares de diversas localidades.
São Lourenço do Sul
Um dos municípios mais afetados, São Lourenço do Sul aguarda a vazão das águas para identificar as perdas. De acordo com o chefe da Emater local, Wolney Bauer, o grande volume de chuva em curto período provocou o que se chama de “lavada nas lavouras”. “Temos bastante área com soja pequena, recém-emergida. O grande volume levou embora a adubação, assim como ocorreu perda de solo. Sobre produção, ainda não temos como contabilizar.”
Segundo Bauer, não devem ter ocorrido grandes perdas produtivas, visto que boa parte das lavouras está no início da germinação. “Conversei com um produtor de fumo que avaliou a chuva como positiva para o cultivo, já que as lavouras estavam no ponto de colheita. Já o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares contabilizou quatro produtores de tabaco da região do Alto do Vime que relataram prejuízos.”
Amaral Ferrador
Produtores de Amaral Ferrador também enfrentam dificuldades devido a várias áreas alagadas próximas ao rio Camaquã. A Emater local trabalha no levantamento das perdas do município. As lavouras de tabaco próximas a arroios e sangas foram as mais atingidas. “Devido à enxurrada, acreditamos que cerca de 10% a 15% do tabaco foi perdido; e nas baixadas, beiras de sanga e planícies, áreas de soja também sofreram, devendo ficar em torno de 10%”, relata o técnico agropecuário da Emater, Moisés Essi.
Essi destaca que, em um único dia, choveu 200 milímetros em Amaral Ferrador. Houve danos em áreas dobradas de lavoura de fumo, com erosão e lixiviação; e também nas baixadas e beiras de encosta, com lavouras de soja registrando alagamentos.
Pelotas
Em Pelotas, a situação de estradas e pontes é a principal preocupação dos produtores de pêssego. Adriano Bosenbecker, da Associação dos Produtores de Pêssego da Região de Pelotas, relata que perdas ainda não foram registradas, mas a grande precipitação gerou preocupação. “Muitos produtores não conseguiram colher, o que vai gerar atraso na colheita, e isso reflete adiante, com o pêssego passado do ponto, além da questão do transporte. Na terça-feira, eram vários caminhos atolados”, conta.
A principal preocupação está nas rotas da Colônia Maciel, Colônia Santa Áurea e Quilombo, principais vias de escoamento. “As demais seriam travessões que levam até essas estradas”, completa.
O agricultor de soja Alan Cristian Voigt estima ter perdido cerca de 10% da área destinada ao cultivo. “As perdas são em adubação, energia da semente, devido à força da chuva, e perdas de solo, que se esvaiu com a precipitação muito volumosa em pouco tempo.” A propriedade de Voigt registrou 300 milímetros de chuva; na região, a média ficou em 280 milímetros.
Já na propriedade do produtor de soja Mário Casali, com 110 hectares destinados ao cultivo, não foram registradas perdas. Jones Becker, também produtor de soja e milho em Pelotas, não teve prejuízos, mas sabe de outros produtores que relataram perdas significativas.
